Livro - A lucidez segundo o espiritismo - Daniel Armilest - Livro Completo



Picture lovingly courtesy Nigel Pye





      Segundo o espiritismo




                                         1° Edição
Editora Voo morto - PT
                                      Edição 2013
        Versão 10.18






Dedicatória

Não tenho mérito nenhum sobre este trabalho. Este livro é um resultado de tudo o que sou como consciência atual e do meu íntimo espiritual. O mérito deste livro está todo em Deus, pois foi por Ele e pelos meios Dele que me foi possível apresentar tais pensamentos. Entretanto, na existência atual, algumas almas participaram ativamente do melhoramento deste trabalho, ficando indispensável o agradecimento sincero a cada um deles.
 Em primeiro lugar, minha esposa, por ter aguentado anos de confusão mental que experimentei tentando penetrar no impenetrável e fustigando meu espírito quase até o limite da loucura.
Marcos Moreno, por ter me tirado de um labirinto de culpa e possibilitado o vislumbre que tive pelo seu fantástico trabalho de psicólogo (como disse anteriormente, "...quase até o limite da loucura”).
Fabiano Bartholomeu, onde me acompanhou por longas conversas e a quem eu devo a "LUCIDEZ" do título deste livro e que tão bem o significa.
Danilo Novaes, que me mostrou o potencial de colocar os diálogos das ideias discutidas neste livro.
Daniel Zambrini, que mitigou e revisou os assuntos contidos neste livro, possibilitando correções e melhorias grandiosas.
Saulo Calderon, que é para mim uma das pessoas mais lúcidas que tive contato até então e que participou deste deslumbramento desde o princípio com seu valioso trabalho.


      Oração
"Inspira-me, meu Deus para a lucidez que encontrei ou que acho ter encontrado. Inspira-me Senhor para mostrar a meus irmãos a tua beleza e o teu amor de uma nova forma. Inspira-me Pai, para conseguir passar aos que estão no momento de compreender este sentimento que tanto toca meu coração. Inspira-me, meu amigo, pois tudo de bom que este trabalho pode resultar nenhum mérito terei, pois todo o mérito é e sempre será Teu".

Índice

Introdução
Notas do Autor
O Espiritismo       
O Orgulho
Do princípio: O livre-arbítrio            
A falta de controle               
Dialogo I               
Dialogo II             
Dialogo II              I
Deus e o Compatibilismo   
As camadas do entendimento           
Dialogo IV            
A indulgência       
Deus Absolutamente justo e bom     
O que somos?      
A Reencarnação  
Não existem desperdícios   
Pseudo Lucidez    
Dialogo V             
A auto lucidez      
Grandes mestres: Jesus Cristo          
O verdadeiro Reconhecimento          
Diálogo VI            
O Perdão              
Bem vs. Mal         
O caminho do amor incondicional    
Humilgência         
A evolução que existe em Retroceder
Diálogo VII          
Estudo de caso I  
A lucidez segundo o espiritismo        
Fundamentos da lucidez segundo o espiritismo             


  

"Acredite naqueles que buscam a verdade. Duvide, porém, daqueles que encontram-na."  Andre Gide


Demorei muito tempo para responder uma pergunta em particular qual resumiria muito bem a introdução deste livro: “Porque escrevê-lo?”
Eu precisava de uma resposta. Precisava para validar o propósito que movia a minha vida e as minhas atitudes e principalmente o sentimento que amiúde me invadia. Precisava entender porque isso acontecia. Durante muito tempo busquei estas respostas e encontrei desafios lógicos que me levavam a um abismo sombrio, mas que me deram o princípio fundamental sobre a lucidez. Nomeei este livro como "segundo o espiritismo" para diferenciar esta lucidez que proponho aqui das tantas outras que existem e realmente acredito ter ido um passo além. Entretanto, posso apenas aspirar a uma verdade relativa e proporcional ao meu adiantamento moral e espiritual.
Então, partindo de um sentimento que até muito tempo permanecia latente em meu coração, conjecturei um raciocínio lógico muito materialista e que logo depois se abriu como uma flor incrivelmente bonita, com a união de um profundo sentimento espiritualista, terminando por ser catalisado com a doutrina encantadora do espiritismo.
É esta flor que quero compartilhar, algo que me faz tanto bem e me mostra com tanto carinho como devemos agir com todas as coisas do universo. Ao enxergarmos de uma forma mais lúcida os inúmeros processos que ocorrem ao nosso redor, o peso do mundo será reduzido e a vida passará de uma navegação turbulenta para uma navegação suave e carinhosa, independente da agitação do mar.
Então, com posse de algo tão bonito no coração, como não compartilhar? Como poderia guardar comigo algo que tanto me tem maravilhado e consolado? Não posso e não quero. É sem dúvida está a resposta: compartilhar algo bom, algo libertador.
Outra ideia que deverá ter em mente é a forma como este livro deve ser lido: Como se estivesse a analisar uma linda flor que mostrarei, pétala por pétala toda a sua beleza em cada detalhe. Então, como um presente, eu a lhe entregarei. Se não a apreciar, não tem problema, será apenas uma flor de um jardim qualquer, mas se estiver pronto, no momento certo, irá guardá-la com você bem próximo ao coração.
Mais tarde, entenderá que a forma na qual se comportará diante desta flor estará totalmente de acordo com o que você é no mais íntimo dos sentimentos, no mais íntimo do teu espírito. Que esta flor traga tantos sentimentos bons quanto tem trazido para mim.
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."[1]
Existe uma parábola muito bonita dita por Jesus, a parábola do Semeador. Nesta parábola Jesus conta o trajeto de um semeador que deixa as sementes caírem ao longo de sua caminhada. As primeiras caíram sobre o chão e algumas aves as comeram. Outras caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; elas logo brotaram, mas a terra não era profunda e quando logo saiu o sol as plantinhas se queimaram e secaram pela falta de uma raiz mais profunda.
Outra parte caiu no meio dos espinhos, que cresceram e logo foram sufocadas e outras caíram em boa terra e deram boa colheita.
Não é dada ao terreno se transformar em boa terra apenas pela vontade. A vontade é a chave para esta determinação, mas carece de tempo e constância. Cada terreno é o que é em determinado momento, dado o seu adiantamento moral intrínseco a ele.
Assim é este livro, como uma semente que dispersarei sobre tantos terrenos distintos, mas somente naqueles onde existe uma particular sensibilidade ocorrerá a boa colheita. Embora este livro se detenha em um conceito lógico bem definido e, de certa forma até inquebrável, não é suficiente por si só. É necessário este tal sentimento, oriundo de experimentações do espírito nesta escola infinita.
Desta forma, nunca existirá, em nenhuma parte deste trabalho a intenção de convencer, pois isto estaria totalmente contra a ideia que irei apresentar aqui como um todo. Que ouçam então os quem tem ouvido para ouvir, ou melhor, os que estão preparados, no íntimo, para conseguir aproveitar o que este trabalho tem a oferecer.
Independente disto, opositores ferrenhos aparecerão e procuro amparo no trecho abaixo:
“Toda ideia nova forçosamente encontra oposição e nenhuma há que se implante sem lutas. Ora, nesses casos, a resistência é sempre proporcional à importância dos resultados previstos, porque, quanto maior ela é, tanto mais numerosos são os interesses que fere. Se, porém, é verdadeira, se assenta em sólida base, se lhe preveem futuro, um secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que constitui um perigo para eles e para a ordem de coisas em cuja manutenção se empenham. Atiram-se, então, contra ela e contra os seus adeptos. Assim, pois, a medida da importância e dos resultados de uma ideia nova se encontra na emoção que o seu aparecimento causa, na violência da oposição que provoca, bem como no grau e na persistência da ira de seus adversários.”[2]
“Sabe ele muito bem que está errado, mas isso não o abala, porquanto a verdadeira fé não lhe está na alma. O que mais teme é a luz, que dá vista aos cegos. É-lhe proveitoso o erro; ele se lhe agarra e o defende.”[3]
Por fim deve ficar claro que não podemos tirar a lagarta antes do tempo do casulo, porque isso a mataria. Da mesma forma não devemos forçar a compreensão de nenhuma consciência, pois tudo tem o tempo certo de acontecer. Podemos sim melhorar as condições e acelerar até certo ponto a eclosão do casulo, mas estará subordinado sempre a lagarta iniciar esta eclosão.




Alguns capítulos deste livro estão na forma de diálogo. Esta foi uma forma que encontrei de colocar a ideia em outra perspectiva onde o leitor poderá compreender com mais facilidade os assuntos, que não são simples. Estes diálogos saíram de situações reais nas quais expunha a ideia para amigos ou para leitores que revisaram este livro. Além de levantar dúvidas comuns que você mesmo poderá ter lendo os capítulos principais, irá lançar uma visão complementar do próprio capítulo.


  

“Quaisquer que sejam os prodígios realizado pela inteligência humana, essa inteligência tem, ela mesma, uma causa, e quanto mais o que ela realiza é grande, mais a causa primeira deve ser grande.” (Kardec, p. 13)


Foi definitivamente no espiritismo que encontrei uma das mais belas formas de manifestação da lucidez, em seu mais profundo nível. Foi com as suas revelações que terminei de dar o nó à conjuntura lógica que havia elaborado e, principalmente, dado um sentido lindo a tudo isso. Esta compreensão não está apenas no espiritismo, mas é nesta doutrina em que existe da forma mais simples, objetiva e lógica.
É no espiritismo que temos a correlação de causa e efeito muito bem evidenciados e que é tomada por base desta doutrina. Por algum tempo este trabalho não teve este rumo espírita, mas foi para mim impossível não passar a utilizar o espiritismo como base, pois é um reflexo expressivo e verossímil do sentimento que sempre existiu e que eu tanto quero passar. É assim, de forma inegável este um livro espírita. Na minha tentativa de escrever algo que chegasse a todos os corações, evitei a abordagem deste assunto sobre o prisma de qualquer doutrina, mas esta é uma missão impossível.
Segue-se também que, pelo fato de ser um livro espírita, ocorrerá um direcionamento mais assertivo aos corações capazes de compreender o que aqui exponho e que seria, além de loucura, uma demonstração de falta de lucidez ao se esperar que todos estejam prontos para compreender este trabalho.
Porém, de certo, não se faz necessário ser espírita. Este é apenas um direcionamento efetivo na busca de consciências que estejam no momento certo. Enquanto que a ideia inicial era propor um trabalho abrangente a todos e que pudesse ser entendida por todas as pessoas, sem restrições, percebi que a constatação de um argumento lógico pouquíssimo influência na crença de uma consciência.
Muito do que tomarei por base se encontra em algumas obras espíritas, principalmente no Livro dos Espíritos e no Evangelho Segundo o Espiritismo.
Para se entender como o espiritismo abraça tão perfeitamente o desafio que este livro se propõe a fazer, darei um breve resumo desta doutrina:
O espiritismo é uma doutrina recente. Teve início depois do instigante fenômeno conhecido como mesas girantes[4], mesas que começavam a girar e se movimentar misteriosamente, fazendo este fenômeno ser uma das formas de diversão da época. Elas se erguiam no ar e respondiam mediante a batidas pelo pé da mesa no chão ou por batidas na própria matéria da mesa ou batidas no teto, fenômeno hoje definido como tiptologia. Chamando a atenção de pesquisadores sérios, Allan Kardec (pseudônimo de Hippolyte Leon Denizard Rivail) foi chamado a investigar os fenômenos para encontrar alguma fraude quanto a um possível efeito de truque magnético ou alguma outra explicação física.
Dotado de um rigoroso método de investigação cientifica, não conseguiu aceitar de imediato os fenômenos das mesas girantes ou dos sons de batidas. Depois de ficar sem respostas para tais acontecimentos e percebendo que uma força inteligente produzia estes fenômenos, estabeleceu padrões de comunicação com esta inteligência. Assim um efeito inteligente deve ter uma causa inteligente.
Kardec percebeu então se tratar de homens que já haviam morrido, espíritos no caso. Utilizando de médiuns, pessoas sensíveis de diversas formas à manifestação com o mundo espiritual, começou a estabelecer meios de comunicação mais eficazes. No começo, um lápis era colocado ao pé da mesa (no caso da movimentação das mesas) para se escrever em uma folha. Nas comunicações que ocorriam em batidas, para cada batida era definida uma letra do alfabeto. As experimentações seguintes deram origem a outras formas de comunicação, como um lápis apoiado em uma cesta escrevendo em uma folha de papel, sendo guiadas por um médium.
A seu tempo, várias formas de comunicação eram aprendidas e utilizadas e por fim todos estes sistemas complicados foram sendo abandonados e o lápis passou a ser utilizado diretamente na mão do médium. Esta Progressão teve principal motivo pela necessidade de veracidade, pois existiria uma dúvida muito forte se as primeiras comunicações fossem obtidas apenas através de médiuns escrevendo diretamente no papel; desta forma, foram necessárias estas manifestações físicas para tornar patente a verdade que existia ali.
Kardec fez centenas de perguntas a estes espíritos em diversas comunicações. Passando por um severo crivo, as respostas eram analisadas e, após o mesmo princípio de cada resposta ser encontrada em diversas comunicações entre médiuns em diversos lugares, sem aparente influência entre si, eram aceitas.
Assim nascia O Livro dos Espíritos.
A presença da lógica está em todo o espiritismo, dando uma nova forma de religiosidade e fé raciocinadas, onde não se deve aceitar simplesmente um fato, mas submetê-lo à inteligência. No espiritismo não existem dogmas. O Livro dos espíritos desmistifica os inúmeros equívocos que ocorreram na interpretação de livros sagrados, muitas vezes gerados por problema na tradução, complicações idiomáticas pela utilização de uma mesma palavra para outros sentidos (sinônimos), interpretação incorreta das parábolas utilizadas, possíveis alterações e manipulações, etc.
Então nascia uma revelação nova, sem tais problemas temporais que nos permitiram uma comunicação limpa com o lado espiritual de forma arrebatadora. O evangelho segundo o espiritismo foi outra obra que tem em uma das suas prerrogativas corrigir erros de interpretação das parábolas contadas por Jesus em sua existência. É um guia para os que procuram a reforma íntima e o progresso efetivo em direção a Deus.
O espiritismo foi então, uma doutrina revelada e iniciada a partir de um efeito. Não foi criada por um sentimento de tentar compreender Deus, mas uma investigação de fatos, das comunicações mediúnicas que se mostravam impossíveis de serem ignoradas. Foi pelo estudo do efeito que se aprendeu sobre a causa. Kardec demorou quase um ano para se convencer, tirando qualquer leviandade de sua posição.
" A mediunidade foi, para o mundo espiritual, o que o telescópio foi para o mundo astral e o microscópio para o dos infinitamente pequenos."[5]




“Aos outros eu dou o direito de ser como são, e a mim, como devo ser.” Chico Xavier


É sem sombra de dúvidas o orgulho um dos piores defeitos morais do homem. É este também o pior inimigo não apenas deste livro, mais de todas as relações a que se depara a consciência em manifestação.
Para entender o que aqui exponho é necessário abrir mão do orgulho, ao menos em grande parte. Se não fizer isso, não passará das primeiras páginas e não estará aberto a novas possibilidades. É o orgulho do homem que o afasta de Deus, que torna invisível sua bondade e seu amor que tanto permeiam cada canto do universo. Nocivo mal que desestabiliza, gera sucessiva cascata de vicissitudes durante sua vida e não traz paz para seu espírito. Se faz então, no momento em que começar a ler o próximo capítulo, abrir mão do orgulho que certamente tornará seu espírito apto a aderir novos conceitos e ideias.
Este é um dos principais impeditivos ao reconhecimento das pequenas grandes coisas que existe neste livro e que o faz estar acessível somente para aqueles que estejam em determinado momento de sensibilidade, conforme a sua evolução espiritual.
Como consta esta passagem muito interessante do evangelho:
“Se se recusam a admitir o mundo invisível e uma potência extra-humana, não é que isso lhes esteja fora do alcance; é que o orgulho se lhes revolta à ideia de uma coisa acima da qual não possam colocar-se e que os faria descer do pedestal onde se contemplam.”[6]
É este mesmo orgulho, inimigo da indulgência e da lucidez que terás de abandonar para prosseguir. Porém, qualquer que seja o resultado, tudo tem seu momento, se não agora, no futuro. Se não aqui, na erraticidade. Para aqueles que seja possível o abandono do orgulho, bem aventurado estes serão.
Para os outros, continuem, tentem, baixem a cabeça para o que existe em um grau e nível muito mais elevado. Ao axioma que podemos aplicar de causa e efeito, pode-se perceber de forma irrefutável a existência de um princípio inicial, tão mais maravilhoso que qualquer maravilha criada pelo homem. Afinal quão mais maravilhoso não seria nosso criador?






"Abre os braços à ação e cresce na direção do Infinito” (Joanna de Ângelis - Divaldo P.Franco - Do Livro: Alegria de Viver)


Alguma vez já se questionou de como uma escolha é feita? De como alguém toma uma determinada decisão ou reage de algum modo? São estes questionamentos como uma chave para um nível muito diferenciado no conhecimento de como as consciências agem no universo.
Quando pensamos nestes assuntos, o termo livre-arbítrio vem imediatamente à mente e muitos responderiam prontamente como sendo este o motivo pelos quais as escolhas são feitas. Porém, para compreendermos a principal conjectura lógica na qual se sustenta este livro, precisamos entender o que é o livre-arbítrio em um outro nível.
Livre: Que age por si mesmo; independente[7]. Cujo funcionamento sem coerção ou discriminação é garantido por lei.
Arbítrio: Resolução dependente somente da vontade; Faculdade da vontade se determinar;[8] 
Livre-arbítrio é basicamente a expressão usada para significar a vontade livre de escolha, as decisões livres. Quando se toma uma decisão, para que ela seja livre, não pode haver coação. A parte "livre" do livre-arbítrio representa exatamente a necessidade de não haver, de forma alguma particularidade que diminua a liberdade quanto a escolha que venha a ser feita.
Dizendo de outra forma, para que uma escolha seja livre, não deve existir nada que atue de forma a coagir esta liberdade. Somente assim ela será livre. Se queremos algo e nada impede esta vontade, então somos livres. Se acordamos no meio da noite, abrimos a geladeira e escolhemos o que comer, somos livres se não existir nada que pese nesta escolha, como por exemplo comer algo que não é seu (moral) ou comer algo que venha a aumentar o peso. Se tudo o que estiver na geladeira é seu e se não tem problemas com o peso, então sua escolha será totalmente livre.
Desta forma, uma consciência faz a sua escolha com base no livre-arbítrio. Mas esta escolha, o quão livre ela realmente é?
Para colocarmos este termo em prática, vamos supor o seguinte exemplo: Imagine que nosso amigo Carlos. Ele vai até a padaria para comprar um sorvete. Chegando lá existem apenas dois sabores, chocolate e morango. Ele escolhe morango, afinal é do seu gosto e não existe nada que possa coagi-lo, de nenhuma forma contra a esta vontade. Diríamos que existe uma grande liberdade em sua escolha, pois esta dependeu apenas de sua vontade, sendo livre para se determinar.
Vamos colocar a mesma situação, porem com vários dos seus amigos indo na padaria comprar sorvete. Chegando lá, Carlos foi o último a escolher, mas todos os seus amigos pediram sabor de chocolate. Com receio de ser o único a pedir morango e ser vítima de uma gozação, Carlos pede Chocolate.
Quando tem-se uma coação a prostrar a possibilidade da vontade se determinar, em qualquer nível, tem-se uma diminuição do "livre" do termo livre-arbítrio.
Poderíamos colocar outro exemplo, talvez mais factível: Carlos se reuniu com seus amigos com muita vontade de ir a um parque de diversões. Porém, todos os outros gostariam de ir a um bar e não ao parque. Carlos então é coagido a ir onde os demais vão, pois sabe das implicações que ocorreriam por sua insistência em ir ao parque. Ele não estaria exercendo plenamente seu livre arbítrio, pois está de certa forma sendo coagido, empurrado, forçado e não teria a sua vontade espaço pleno para se manifestar.
Naturalmente ele poderia recusar e ir ao parque sozinho, mas isto teria impacto quanto ao coletivo, seu engajamento no grupo, críticas que viriam, etc.  Ele não é totalmente livre para simplesmente escolher e todas estas ideias, sentimentos, pensamentos sobre o que pode ocorrer pela sua insistência podam seu livre arbítrio.
Ao imaginar-se a primeira situação, onde Carlos teria ido sozinho na padaria, potencializando a liberdade do seu livre-arbítrio, por qual motivo ele teria escolhido morango e não chocolate? Ou na segunda situação onde ele, sozinho, teria ido ao parque e não ao bar?
Afinal, existe uma explicação para que ele tenha feito estas escolhas, mas quais seriam?
Poder-se-ia dizer que a sua escolha foi promovida pelos seus gostos e que tais gostos seriam um resultado de situações que promovessem esta educação alimentar. Um exemplo disto seria sua mãe gostar mais de morango, passando a induzir este gosto no seu filho. Independente do motivo, existe uma explicação para tal comportamento. Existe um "porque" para aquela escolha.
No decorrer da história, algumas correntes de pensamento filosófico foram sendo edificadas na tentativa de compreender esta questão. A primeira corrente, apresentada por Descartes e Kant procura entender o livre-arbítrio como completamente arbitrário. Assim, independente das possibilidades a serem escolhidas, qualquer uma delas será possível, independente da situação. Seria como dizer: Para matar ou não alguém, temos sempre 50% de chance. A segunda corrente, muito bem representada por Spinoza e diversos filósofos que seguem a linha mais materialista defendem que o livre arbítrio como não absoluto, sendo o homem condicionado a fazer suas escolhas a partir do que ele é. Se alguém escolhe ser mal é porque ele é mal e isto estaria em similaridade com a sua natureza que o condicionou a tal, desde sua criação. [9]
Neste ponto devo apresentar três conceitos filosóficos sobre a liberdade da escolha do livre-arbítrio: O Determinismo, o Indeterminismo e o Compatibilismo.


Significado de Determinismo[10]
s.m. Princípio segundo o qual todo fato tem uma causa e, nas mesmas condições, as mesmas causas produzem os mesmos fatos, o que implica a existência de leis específicas que regem fatos e causas.

No determinismo tudo seria regido por este comportamento e o futuro seria absolutamente imutável. A ideia do determinismo é absolutamente lógica e não se pode escapar dela sem a atribuição de algo desconhecido. É preciso atribuir um fato externo que possa quebrar este fluxo de causa e efeito. Desta forma o determinismo seria como uma função matemática, onde com os mesmos valores de entrada resultam necessariamente nos mesmos valores de saída.
Ao escolher-se algo, esta escolha poderia ser um resultado de trilhões de combinações, tendências, educação, momento histórico, genética, momento evolutivo da consciência em um efeito dominó de acontecimentos.
O grande problema do Determinismo é que nos torna totalmente robóticos, já que tudo o que somos, os sentimos que possuímos e que acreditamos seria um resultado lógico, inquebrantável, uma causa de trilhões de efeitos interagindo de uma forma absurdamente complexa.
A ideia do Determinismo é muito sólida. Apenas pode-se quebrá-la parcialmente e com o intermédio de algo que não pode ser provado, e para tanto, muito usualmente é utilizado Deus para tal fim.
Significado de Indeterminismo[11]
s.m. Sistema filosófico segundo o qual o curso natural das coisas não se acha submetido a nenhuma lei, a nenhuma causalidade inteligível, quer se trate dos atos humanos, quer dos fatos naturais.

O Indeterminismo seria o princípio no qual alguns acontecimentos têm causas não lineares previamente determinadas. Corresponde assim a uma quebra da causalidade definida pelo Determinismo, por esta corrente de acontecimentos, este efeito dominó. Esta quebra seria ocasionada por algo que não sabemos, obscuro, inserto, indeterminado.
Desta forma o Indeterminismo só é possível se assumirmos um agente de quebra da cadeia do efeito dominó de causa e efeito.
O Compatibilismo seria a união entre o Determinismo e o Indeterminismo. Este é o conceito mais aceito e que poderia representar mais como as escolhas seriam efetivamente feitas pelas consciências. A fim de conjecturar-se logicamente o assunto, poder-se-ia dizer que 95% corresponderia ao Determinismo e 5% ao Indeterminismo.
É inegável logicamente que o Determinismo é a maior parte, pois nos é mostrado, a todo o momento esta relação de causa e efeito em toda a parte. O Indeterminismo está baseado em uma hipótese não lógica, que foge ao que se pode provar. Porém, existe algo que nos indica que assim deve ser: o sentimento, pois não somos robôs.
O pensamento de que somos apenas robôs de uma causa e efeito lógicos, da mesma forma que a ideia de um destino inquebrável é brutal. É este sentimento interno que torna esta realidade onde só existiria o Determinismo tão incompleta. Algo nos diz que isto não seria possível, algo profundo, como o próprio Deus que existe e que nos impulsiona para o progredir infinito. Este sentimento nos mostra que esta lógica poderia não ser possível.
É necessário analisar o livre-arbítrio sob estas duas formas, Determinista e Indeterminista para compreender seu funcionamento em uma estrutura onde as duas atuem simultaneamente (Compatibilismo).
É imprescindível antes de terminar estas definições colocar um ponto onde existe uma total confusão com os significados. Precisamos sempre nos ater ao real significado das palavras e não atribuir a elas uma definição sem compromisso com seu real significado.
Determinismo é diferente de Determinado, assim como Indeterminismo é diferente de Indeterminado.

Significado de Determinado[12]
adj. Que se pode determinar; que foi estabelecido, resolvido ou decidido; aprazado ou estabelecido: valor determinado.
Que demonstra decisão ou resolução; decidido: um sujeito determinado.
Que foi estipulado com antecedência; estabelecido.
Significado de Indeterminado[13]
adj. Que não é determinado, que não é fixo: espaço indeterminado.
Indefinido, indistinto. Matemática Diz-se de um sistema de equações ou de um problema de que uma ou várias incógnitas podem ser escolhidas arbitrariamente, sendo as outras funções desses valores arbitrárias.

Antes de Newton, a trajetória de um objeto com o tempo era indeterminada, pois não se conseguia prever o comportamento do objeto pela falta de conhecimentos (ignorância). Isto não quer dizer que este movimento não seja efeito de uma causa (Determinista).
É assim tanto na física clássica como na física quântica. Na física quântica, existe o indeterminado, pois é como uma caixa preta. Suas leis são totalmente não intuitivas e seu comportamento não segue a lógica da física clássica. Assim, se utilizam curvas de probabilidade para conhecer o seu comportamento, que é reprodutivo e provado cientificamente. É assim com o efeito da incerteza do cientista alemão Werner Karl Heisenberg (1901-1976).
O princípio da Incerteza, resumidamente, declarava ser impossível determinar com precisão e simultaneamente a velocidade e a posição de um elétron. Dessa forma é indeterminável a posição simultaneamente com a velocidade do elétron, mas isto não quer dizer que ela é indeterminista, pois se assim fosse, seria obra do acaso.
Este fenômeno da incerteza tem uma explicação Determinista: Heinsenberg entendeu que os métodos utilizados para se medir o comportamento do elétron acabavam por influenciar este comportamento, de modo que, quanto mais precisa fosse a medição da variável posição, menos confiável seria a da variável velocidade. Para se medir partículas subatômicas, são necessários a emissão de outras partículas com a mesma escala de grandeza. Seria como tentar medir a posição e velocidade de um carro utilizando-se uma árvore: Todo o experimento estaria arruinado.
Este conceito é incrivelmente confundido por muitas pessoas. O fato de algo ser indeterminável, não o torna indeterminista; são coisas muitíssimas diferentes, porém a semelhança na palavra gera esta enorme confusão.
Se a física quântica fosse indeterminista, ela não seria reprodutível (por ser obra do acaso), nem controlável. Mas é, pelo contrário passível tanto de reprodução, como de comprovação experimental de suas teorias, o que mostra estarem tais fenômenos submetidos a uma lei que foge do nosso real entendimento. Assim a física quântica é indeterminada, não indeterminista.
Pode-se dizer, entretanto, que a física quântica é indeterminada por não ser inteligível, ou seja, não ser passível de entendimento pela inteligência. De uma forma ou de outra, é necessário ter exatas estas ideias e isto só é possível com o estudo sistemático de cada parcela dos significados destas palavras.
Independente disto pode-se apontar com respaldo ao que tange a inteligibilidade o seguinte:
O acaso não existe. Essa suposição fere tudo o que nos tange a razão e o discernimento.
O ponto chave deste livro reside na conjectura de uma forma de analisar como as escolhas são feitas sem ferir nenhuma das teorias existentes, inclusive o indeterminismo no que tange o acaso. Está ai então o “pulo do gato” desta nova forma de observar o mundo.





"Ama, entretanto, não anotes as tricas em derredor, de pequeninas renúncias o Amor sai sempre maior." (Carlos Gondim)


É este o ponto mais difícil do livro, onde o orgulho será muito atacado. É aqui que devemos nos desarmar de forma franca, baixar os braços e procurar entender o que proponho mostrar. Se passar por este capítulo, certamente chegará ao final do livro.
Tenha em mente que para algo lógico não fazer sentido, é necessário um argumento lógico de força igual ou superior para se tomar como base. Caso contrário, deve-se ao menos admitir a possibilidade deste último pela sua coerência e, principalmente, por não existir nada que se oponha a ele em semelhante nível.
“...Digam, porém, o que disserem, ou façam o que fizerem, não evitarão que as coisas sejam como são, que não foi consultando-lhes a vaidade que Deus formulou as leis da Natureza.”[14]
Vamos criar uma situação hipotética onde temos uma escolha simples: uma bifurcação na estrada.
Agora vamos dizer que pudéssemos escolher qual caminho seguir utilizando completamente cada uma destas duas formas de considerar-se o livre-arbítrio.
Se alguém escolher o caminho da esquerda utilizando somente o livre-arbítrio do ponto de vista Indeterminista (100% da sua escolha baseada nele), qual seria o controle desta sua escolha se ela foi definida por um evento desconhecido que simplesmente “pipocou” em sua mente ou que foi induzido por algo de fora, independentemente dele?
Digamos que neste momento de decisão teríamos sido induzidos por um pensamento de bons ou maus espíritos, por Deus, ou por qualquer outra manifestação que nossa limitação desconhece, qual seria o controle que teríamos sobre esta escolha?
No outro cenário, se levarmos em conta o livre-arbítrio sobre o ponto de vista Determinista, teríamos a escolha determinada pela vontade, como resultado do que a pessoa é como um todo.
Esta vontade é um resultado da nossa educação, temores, valores, genética, evolução espiritual, etc. Teríamos controle sob esta escolha se ela se apresenta como um resultado de uma cadeia complicadíssima de causas e efeitos?
Temos também uma terceira e última possibilidade, o Compatibilismo, o que estaríamos aqui considerando como o mais real, a forma aceita neste livro.
Se não teríamos controle real, efetivo de nossas escolhas em uma situação de livre-arbítrio sob o ponto de vista Determinista, nem controle em um livre-arbítrio sob o ponto de vista Indeterminista, como obter controle com o Compatibilismo?
Assim, em nenhuma destas três e únicas formas de manifestação do livre-arbítrio temos o real controle da escolha.
 Quando se diz que não temos o controle efetivo sobre nossas escolhas, sei que isto ataca diretamente nosso orgulho. Porém, não se pretende com isso dizer que não existe o controle em determinadas situações. Pode-se ter o controle de uma situação em particular, o controle dos sentimentos e também o controle de um processo, mas não o controle do que somos.
Um bom exemplo seria analisar alguém que mantém o controle emocional em um momento de crise. Naquela análise circunscrita, existe o controle, porem este controle se perde quando analisamos a “Big Picture”, o todo.
Se nos perguntássemos por que alguém mantém o controle da situação e outra não encontrariam ai mais um efeito de uma causa ou algo indeterminado.
Manter o controle emocional só foi possível mediante as escolhas que foram tomadas. Poder-se-ia escolher em atuar na situação ou por permanecer ausente. E o que teria influído na tomada da escolha? Também não seria outro efeito de uma causa? Ou obra de algo indeterminado?
É com muito cuidado que procuro não macular o maravilhoso livre-arbítrio dado por Deus para as suas criaturas terem a liberdade de escolherem seus próprios caminhos. O que eu mostro, de uma forma muito diferente, é que existe um entendimento muito mais profundo para explicar o que leva alguém a ser como é, mas para se compreender isto se faz necessário estudar amiúde suas razões e motivações, o que nos leva a esta possível conclusão: Não temos como não ser o que somos.
Então eu pergunto: Como responsabilizar uma consciência se a sua escolha foi uma mistura destas duas formas de liberdade que não confere efetivamente controle nenhum à ela sobre suas ações?
A responsabilidade pelas ações de uma consciência se dá pela necessidade de aprendizado, somente por esta razão. Enquanto existir a ignorância será necessário este mecanismo de correção. É necessário que exista a punição, a conta partida de uma ação não edificante.
Desta forma, independente de como uma consciência interprete o livre-arbítrio, ela nunca terá o controle efetivo sobre suas escolhas, o que nos leva ao seguinte e mais importante definição de todo o livro, um tributo a indulgência em seu mais profundo estado:
"Cada consciência neste universo é e sempre será o melhor que consegue ser, uma manifestação fiel de si própria, de seu momento evolutivo rumo a perfeição".
O Controle efetivo das nossas ações, em qualquer combinação que se dê quanto à observação do livre-arbítrio nunca existirá. Quando eu digo que não existe um controle tento mostrar que as ações que uma consciência promove são uma manifestação em concurso com seu íntimo, com sua natureza, com seu momento evolutivo, reflexo do seu espírito.
Os maus, ainda imersos na ignorância, são assim pela razão de não conseguirem manifestar a bondade, pois lhe falta o sentimento, a empatia que será adquirida apenas com as sucessivas reencarnações que lhe serão presenteadas.
Os maus só assim se manifestam porque não conseguem fazer o bem e está longe desta afirmação ser somente um jogo de palavras. Se fizermos o bem, isto é uma manifestação de algo que trazemos no íntimo e que deixar de fazê-lo acarreta em um incômodo, insatisfação e desconforto. Não fazer o bem para alguns dilacera a alma, realmente machuca o coração.
 Os que não amam, não o fazem simplesmente por não quererem, mas porque não conseguem. Os que odeiam, o fazem por não conseguirem amar. Por outro lado os que amam, não conseguem odiar e o fazem movidos por algo tão profundo que se torna natural e inevitável.
Talvez seja este o ponto mais complicado deste trabalho e será necessário abrir mão do orgulho para realmente entender que não existe controle sobre o que nós somos, sobre como nos sentimos. Em outras palavras, não podemos fugir do que somos. Então, como ocorre que uma consciência procura se melhorar?
Esta é uma pergunta que devemos procurar responder primeiramente por nós mesmos. Se honestamente nos analisarmos, veremos que algo interno nos incomoda a ponto de procurarmos outro caminho. Este “incômodo” é o motivador de todo este movimento. Se estiver lendo este livro, é porque algo o motivou e não teve controle sobre essa motivação, porque isso é ser o que você é, como manifestação absoluta de si mesmo.
Talvez a forma mais fácil de entender o que tento expressar em palavras é a auto-observação. Quando nos descontrolamos, surtamos ao impulso da raiva, percebemos esta falta de controle em nós mesmos.
 Analise-se e perceberá que as respostas quase sempre estão em seu íntimo. Todos os ensinamentos de Jesus poderiam seguramente serem observados com muita felicidade nesta frase: “Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles.” Lucas 6:31
Perceba que em uma única frase Jesus consegue mostrar de uma forma incrivelmente assertiva como devemos nos comportar, em toda a sua extensão, e que ela diz mais sobre nós mesmos do que sobre os outros. Este seria o motivo da máxima "conhece-te a ti mesmo" ser tão importante para conseguirmos avançar na senda do progresso que se abre a nossa frente.
Não somos o que queremos ser, mas sim o que conseguimos ser. Não queremos o que queremos, mas o que conseguimos querer.
“O Homem é livre para escolher o que quer, mas não para querer o que quer.” [15]






— Daniel, não concordo com o que você está dizendo. Então se tivermos um criminoso que assassinou alguém, estaria me dizendo que ele não teve controle sobre isto?
— Sim, seria isto mesmo. Posso te explicar de outra forma: No momento em que este criminoso respondeu desta maneira, tirando a vida de outra pessoa, ele estava reagindo conforme ao que ele era. Ele não conseguiu agir diferente.
— Mas ele poderia não ter atirado.
— Poderia, mas não teve controle sobre isso. Me responda a uma pergunta: Existe uma explicação para o fato deste criminoso ter atirado?
— Deve ter sim.
— A partir do momento que explicamos um evento, colocamos este evento em uma cadeia de causa e efeito, ação e reação definidos. Quando se explica, se determina a inevitabilidade do acontecimento e logo não se tem o controle.
— Bom, talvez não tenha uma explicação.
— Pode ser, mas agrava ainda mais a situação. Ao não existir explicação para um acontecimento, o definimos como sem lógica, um resultado do acaso; mas o que é o acaso se não o nada? E o que é o nada?
— Como assim?
— Se podemos explicar um acontecimento, ele acaba por ficar preso nesta cadeia de ação e reação. Se o criminoso atirou, isso foi por sua imprudência, nervosismo e pela situação em que se encontrava. Mas porque ele é imprudente? Porque ele se permitiu estar nesta situação?
— Ele escolheu este caminho.
— Sim, sem dúvida. Mas porque ele escolheu este e não aquele? Porque não foi firme o suficiente para escolher o caminho do bem? Porque duas pessoas em situações semelhantes tomam decisões tão diferentes?
— Mas estas perguntas não podem ser respondidas.
— Não diria que não podem, mas que não precisam ser respondidas para serem efetivamente compreendidas. Alguém só segue um caminho do mal pois sua forma de agir não lhe implica em um sofrimento mais agudo. Por não ter sensibilidade e reconhecimento do sofrimento que ele implica nos outros, é incapaz de sentir. Precisamos sempre voltar às origens do que leva alguém a fazer algo e porque esta consciência se tornou o que é. Se alguém cai no caminho do crime por ser fraco, o que leva alguém a ser fraco ou forte? Ao identificarmos o motivo da fraqueza daquela consciência, não acabamos por responder a esta pergunta?
— Mas desta forma, você acaba justificando as atitudes de todo mundo.
— Sim, exatamente. Todos agem no limite do que são como consciência, porem existe uma grande diferença entre aceitar e ser conivente. Todos nós somos responsáveis pois é necessário que exista uma contra partida para uma correção, caso contrário não evoluiríamos.
— Mas se ele fosse apenas mal, digamos cruel?
— E o que leva alguém a ser mal ou cruel? Digamos que ele tenha nascido assim, com uma crueldade latente, que o impulsiona a agir desta forma. Este já não seria motivo suficiente para suas crueldades? Agora imagine duas pessoas, uma boa e outra ruim. A pessoa boa não traz em si estes pendores, motivados pela truculência do espírito. Dessa forma, alguém mal tem um impulsionador que os bons não tem, pelas consequentes evoluções e impérios que edificaram em seu espírito para um caminho mais manso. Por outro lado, os bons tem um impulsionador em sentido oposto. Assim o mal tem dificuldades em não praticar o mal, o bom tem dificuldades em ignorar oportunidades de praticar o bem. Tudo é um efeito de uma causa. Procure a causa de todos os efeitos e entenderá exatamente o que estou tentando lhe mostrar.




— Então Daniel, eu acho que tem que dar uma melhorada na ideia ainda, no livro está parecendo muito que não existe o livre arbítrio e sim que só existe o determinismo, tem que dar uma "balanceada" entre os dois.
— Inevitavelmente acaba tendendo para o determinismo, mas a ideia está em mostrar a falta de controle da consciência, pois esta é a ideia central; não importa se tem o determinismo puro, o indeterminismo puro ou o Compatibilismo. Em nenhuma das opções a consciência vai ter controle de suas escolhas e elas são uma resposta desta mistura de coisas acontecendo. No indeterminismo, a consciência poderia escolher qualquer coisa, mas isso estaria no fundo fora do seu controle. Se é determinista é um resultado e logo sem controle. Se é compatibilista a lógica aponta novamente para a falta de controle.
— Cara, Pra mim não faz sentido, porque eu parto do princípio que tudo que você faz na sua vida é sua culpa, sua escolha, sua atração. O determinismo para o futuro para mim é um sinônimo de destino, e pelo menos na visão espírita que eu pesquisei isto não existe. Eu entendo que nós estamos presos em certas escolhas, mas de qualquer forma a escolha final é nossa. A nossa ideia acaba divergindo bem no fim, você entende o meu ponto?
— Então, mas você acredita que exista o determinismo agindo? Na ideia do Compatibilismo eu digo, que temos o determinismo e o indeterminismo? Ou você só acredita no indeterminismo. Outra, somos culpados sempre, porque a culpa é romper a uma regra estabelecida. Você pode ser culpado por infringir a uma regra do banco imobiliário e terá que pagar por isso com uma punição do jogo, por exemplo. Sempre seremos culpados se infringimos uma regra. Eu ainda não entendi porque você não me entendeu, porque falamos as mesmas coisas, reparou?
— Eu concordo com isto! mas eu não concordo que a consciência não tenha controle sobre as suas ações!
— Entendo...acredito que isso ataca o orgulho, muito mais isso do que a lógica.
— Daniel, não é questão de orgulho! Mas é que simplesmente falar que a consciência não tem controle sobre as suas ações não bate com a descrição de livre-arbítrio! Eu entendo que em determinado momento nós temos poucas opções de escolha e que elas podem ser influenciadas, mas no final das contas a escolha final vai ser sua, e você será responsável por ela! O seu livro pra mim se trata de um mecanismo lindo para perdoar as pessoas de forma mais fácil, eu só não consigo aplicá-lo para o meu futuro! Eu acredito que a lucidez está em não depender do determinismo! Você entende o que eu estou tentando dizer?
— Ai está o ponto. Fiz uma pesquisa dos significados do livre-arbítrio, uma coletânea que existem nos dicionários mais conceituados e poderá perceber que o livre-arbítrio é praticamente determinista. Olhe as definições que encontrei:
1. faculdade de tomar decisões segundo a própria vontade.
2. Faculdade da vontade para se determinar.
3. Poder ou possibilidade de tomar decisões seguindo somente o próprio discernimento.
4. Que age por si mesmo; independente.
5. Resolução dependente somente da vontade.
6. A “possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante”.
7. “Possibilidade de exercer um poder sem outro motivo que não a existência mesma desse poder”
8. Vontade, talante.
9. Poder, faculdade de decidir, de escolher, de determinar, dependente apenas da vontade.
10. Faculdade do homem de determinar-se a si mesmo.
11. “Refere-se o livre-arbítrio principalmente às ações e à vontade humana, e pretende significar que o homem é dotado do poder de, em determinadas circunstâncias, agir sem motivos ou finalidades diferentes da própria ação”.
— Observe, quase todas estão mostrando o livre-arbítrio como sendo uma resposta ao nível de liberdade que tem a vontade de se determinar. Agora de onde vem esta vontade?
— Do tanto de evolução que aquele ser tiver acumulado!
— Exatamente, uma resposta a tudo o que ele experimentou. Alguém age e escolhe com base nisso e ninguém tem controle das suas experimentações pelas quais foi submetido. A lógica é muito forte nisso, se você procurar o efeito de toda a causa, vai ficar claro este ponto. Se o efeito não for de uma causa conhecida (indeterminista) ela não está na consciência e menos controle ainda se tem. O fato de não ter controle não é ruim, pelo contrário, é excelente e não exime nenhuma consciência de sua responsabilidade; ela é culpada, terá e será responsabilizada. O livre-arbítrio do espiritismo é muito mais determinista que qualquer outro e ele não se explica no contexto que estou apresentando aqui, muito provavelmente pois ainda não era tempo desta profundidade de conceito. Tenho observado todos os pontos sobre isso no espiritismo nos livros de Allan Kardec e sempre vejo a mesma ênfase na causa e efeito, o que são puramente deterministas. De qualquer forma, pela lógica, não se tem controle. Na parte determinista, o que sugere os significados do livre-arbítrio certamente não temos. Na parte indeterminista que se refere ao que está além da consciência, muito menos. Como podemos ter controle?
— "Alguém age e escolhe com base nisso e ninguém tem controle as suas experimentações pelas quais foi submetida". Errado, se para encarnar na terra o espírito escolhe o caminho a ser trilhado (em alguns casos), como ele não tem controle de quais experiências?
— Entendo, mas ele escolhe segundo a alguma coisa. Aqui temos duas opções: Se ele escolhe, a sua escolha é um efeito de uma causa. Se este efeito é um resultado determinista, não existe controle. Se ele escolhe segundo a alguma intuição, algo fora dele, também não há controle. O espírito escolhe melhor conforme é mais experiente e consciente do que ele é e isso é um efeito da sua evolução. Um espírito bruto não vai escolher uma prova difícil, mas algo que o favoreça como ser rico, famoso etc. Isso é natural para uma consciência assim. Da mesma forma, uma consciência mais adiantada já compreende todo o sistema e vai escolher algo que a eleve, como uma prova mais amarga. Assim, temos somente 3 opções existentes: Ou a escolha é determinista e assim como um cálculo matemático não temos controle, ou a escolha é indeterminista e também não temos controle ou no Compatibilismo e a junção das duas não daria controle. Não existe outra combinação e toda a lógica aponta para o mesmo ponto. Eu estou tentando achar algo que quebre essa lógica, mas é difícil, não consigo. Eu sou um juiz de mim mesmo, de toda essa conjuntura, mas não acho uma brecha....
— Ok, vamos tentar fazer um experimento para discutirmos. Te apresento 3 cartas: 1,2 e 3. Escolha uma e me fale qual você escolheu.
— 3.
— Bom, só para você entender, quero que nós adquiramos conhecimento juntos. Vamos analisar a escolha: Você escolheu a número 3 por algum motivo, pode ser algo que foi determinado em algum pensamento, ou que foi uma intuição ou qualquer outro motivo. Esta escolha que você fez estava limitada correto? Você não podia escolher a carta [4] ou a carta [5], por que você estava limitado a [1] a [2] e a [3] certo? Ou seja, considerando o universo todo (todos os números e todas as cartas, etc.), você não tinha liberdade de escolha, ou controle, pois estava limitado.
— Então, eu não tinha liberdade para escolher o que não conhecia que existia. Eu tinha liberdade para escolher dentro destas 3 cartas. A escolha que eu fiz foi muito livre, pois escolhi pela minha vontade e nenhuma coação aparente existia.
— Beleza, Ao meu ver nós podemos tirar 2 conclusões disto: 1ª - Dentro do espaço que você sabia que existia ([1], [2] e [3]) você tinha total controle sobre a sua decisão. 2ª - Se nós considerássemos todo o universo, você não tinha controle total sobre a sua decisão, pois você estava sendo forçado a escolher entre 3 possibilidades. Você concorda?
— Então, concordo se você não procurar entender o que motivou a escolha em si. Se observar somente na camada aparente acredito que esteja completamente coerente, porém se descer uma camada de entendimento, a coisa complica. Quando você diz que tem controle sobre a escolha das 3 cartas, precisa se perguntar porque eu escolhi a carta 3, dentro das opções que eu conhecia. Ao responder, explicar e entender que a minha escolha foi um efeito, percebe que nesta escolha não havia controle, já que se explica o motivo na qual se deu esta escolha. Eu escolhi utilizando meu livre-arbítrio, minha vontade. Mas minha vontade não se determina pelo acaso, principalmente porque o acaso não existe. Ou veio de mim (determinismo) ou veio do limbo incógnito (indeterminismo) ou veio dos dois em uma simbiose complexa. Se eu me pergunto a causa do efeito da escolha, chego a uma causa. Entende? é ir mais fundo, no princípio das coisas, no princípio da escolha.
— Eu entendo o que você diz, mas para mim este pensamento não fecha, este pensamento que você está dizendo acaba nesta conclusão: Se você está diante de uma situação ruim, e você não sabe o que fazer, a sua decisão não importa, porque na verdade ela já foi feita! Nada que você vai fazer na sua vida importa, porque tudo que você vai fazer já foi decidido, e será apenas um resultado de todos os outros resultados. Entendeu? A sua forma de pensar retira completamente o sentido da vida, pois se você não tem controle e tudo já foi decidido por você, não existe um porquê de fazer algo. Você é apenas uma engrenagem dentro de um motor muito mais complexo, girando, sem ter controle do que você vai fazer.
— É ai que tudo muda, é ai que meu pensamento se diferencia com os que acreditam em 100% determinismo. Eu não penso assim, acredito no determinismo agindo acima de 90% e o resto é indeterminado, porque não sabemos como funciona Deus e as entranhas deste mecanismo. Então a sua escolha não está feita antes, ela estará feita 90% e o resto é indeterminado. No momento em que eu escolhi a carta 3 se eu voltasse no tempo e fosse 100% determinismo, eu poderia voltar quantas vezes quisesse que e a escolha seria a mesma. No conceito Compatibilista, se eu voltasse, poderia ter escolhido outra carta, porque existem coisas que não conhecemos agindo por toda a parte! Ai que está o pulo do gato, você pode escolher diferente, sempre! Mas esta escolha não sai de você, é indeterminada. Isso não lhe dá controle porque está fora da consciência, mas lhe dá todas as possibilidades sobre o que escolher e toda a responsabilidade sobre esta escolha. Entende? Eu não acho que seja tudo determinista, neste caso seríamos robôs sem muito sentido.
— Bom eu acho esta sua visão bem melhor! Mas mesmo assim, a diferença parece que nós somos robôs ao acaso! Nada parte de nós, vem sempre de fora entende?
— Sim, é isso mesmo, tudo parte de um princípio. No começo da nossa conversa você disse que tudo era Deus e que éramos Deus. Eu disse que tudo vinha de Deus e que somos filho Dele, obra sua. Percebe que pouco muda, sendo Deus a origem de tudo? Querer algo nosso, algo interno é orgulho, ego, vaidade. Nosso destino está na despersonificação, somos muito maiores que isso. Esse próprio leque de existências mostra que não somos eu e você, estamos assim agora, fomos muitos e seremos muito mais. Despersonificar, fugir dessa necessidade de colocarmos o princípio em nós mesmos e perceber que tudo, mas tudo mesmo parte de Deus.


Dialogo III


— Esta questão da falta de controle não me parece muito lógica.
— E porque não?
— Até entendo que, no momento da escolha não se tem controle, pois ela será uma resposta ao que somos, mas pode-se querer mudar e melhorar.
— Sim, exatamente. Mas será que alguém que escolhe melhorar, mudar tem controle desta “vontade”? Perguntando de outra forma, não seria esta vontade também um efeito de uma causa? Alguém só quer mudar porque permanecer como está gera incômodo, de outra forma não mudaria. Se este incômodo passar a ser insuportável, a mudança começará a ocorrer. Ficar incomodado, dentro das possibilidades que conhecemos ou é um efeito de uma causa, ou é efeito do indeterminado ou a mistura dos dois. Se for o primeiro caso, não se tem controle, pois está amarrado a um efeito dominó de causa e efeito. Se for o segundo caso, não se tem controle por ser ou obra do acaso ou obra de algo não inteligível. No terceiro caso, a mistura dos dois primeiros casos, por razões lógicas não confeririam controle à consciência.
— Então estaria me dizendo que alguém que escolhe melhorar, não poderia ter escolhido outra coisa?
— Sim, é exatamente isto que estou dizendo. Todas as nossas escolhas são uma resposta íntima do que somos e não controlamos o que somos. Por isso digo que todos nós somos e sempre seremos o melhor que conseguimos ser.




"Ante as crises da vida. Não te revoltes. Serve." (Emmanuel - Chico Xavier)


Como vimos, o Indeterminismo nos mostra uma ligação diferente que nos "salva" de um destino imutável e inevitável, mas como isto poderia acontecer?
"Haverá no homem alguma coisa que escape a todo constrangimento e pela qual goze ele de absoluta liberdade?
“No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade pois que não há como pôr-lhe freios. Pode-se-lhe deter o vôo, porém, não aniquilá-lo.”[16]
O pensamento do homem é o que torna seu livre-arbítrio Indeterminista real. É por ele que padrões são quebrados, correntes de causa e efeito dispersadas por momentos. O Indeterminismo estaria com Deus e o que vem de sua inteligência, como toda a sua estrutura de funcionamento. Uma forma de exemplificar este mecanismo se encontra na figura abaixo:



Figura 1. Relação do Indeterminismo e do Determinismo no pensamento da consciência.

Na figura 1, o Determinismo dentro do círculo é soberano e absoluto, mas ao pensamento do homem é dado uma comunicação sublime que transcende esta limitação. É esta ligação que nos torna tão especiais. É este contato que nos difere das demais formas vivas de manifestação deste universo. Deus é tão incógnito, tão enigmático que nem mesmos os espíritos reveladores que regaram o espiritismo com tanta luz tem conhecimento certo sobre Ele.
Logicamente, não se pode tirar a afirmativa de muitos que acreditam ser o Determinismo soberano em todo o universo e que seriamos simples mecanismos atuando. Apenas a sensibilidade mostra diferente e é por isso que sempre devemos observar com indulgência os que ainda estão presos a estes mecanismos de um sistema cruel e sem esperança.
O grande ponto com o determinismo está em sua força. Tentar quebra-lo é como procurar provar que a lógica não existe utilizando a própria lógica. O único argumento realmente válido contra o determinismo se sustenta na possibilidade de existir algo diferente, muito fora da nossa compreensão, algo ininteligível, como o próprio indeterminismo. O sentimento nos mostra, nos direciona para algo muito maior do que simplesmente uma cadeia de acontecimentos inquebráveis, porém é necessário admitir que não é pela lógica humana que encontraremos estas respostas. O “pulo do gato” está em compreender que, independente da percentagem de determinismo e indeterminismo que exista em uma escolha, nunca teremos controle sobre ela, pois não se tem controle no resultado determinista e não se tem controle em algo que vem de fora, indeterminado, que teria “pipocado” em sua mente ou efeito de algo ininteligível. Estaríamos deixando toda a complexidade de como uma escolha é feita de lado e nos concentrando nesta resultante, tão lógica quanto o próprio determinismo e que nos mostra que todos são o melhor que conseguem ser.







“O Homem é livre para escolher o que quer, mas não para querer o que quer” (Arthur Schopenhauer).


Uma das principais formas de entendermos sobre a lucidez está em uma mudança na forma como encaramos os comportamentos de todas as consciências que estão interagindo conosco.
Praticamente todas as pessoas analisam as situações da vida onde existe uma interação com outra consciência de uma forma totalmente superficial, resultando em um entendimento raso, pobre, obscurecido e não lúcido do acontecimento.
É necessário nos esforçarmos para compreender o que leva uma consciência a ter tal comportamento, a agir de determinada maneira. Mas eu bem sei da dificuldade desta análise e apenas a empatia possibilita este tipo de indagações. Ao sentirmos um pouco do sofrimento de um de nossos irmãos, nos colocamos como observadores mais inteligentes pela necessidade do entendimento, como medida de alivio. Afinal, sempre existe uma explicação para tudo, mas para encontrá-la se faz necessário estarmos abertos para enxergar esta nova forma de observarmos os acontecimentos a nossa volta.
Antes de tentarmos entender isso, precisamos compreender como funciona o que chamo aqui de camadas de entendimento de um determinado acontecimento.
Para cada camada, utilizaremos uma pergunta básica: “Por que?”. Para cada pergunta respondida, um nível de conhecimento terá sido aprofundado e teremos uma visão mais lúcida.
Vamos começar com uma situação simples e hipotética.
Imagine um garoto olhando o seu pai trabalhando em uma determinada atividade. Em algum instante o pai do garoto esbarra em uma régua que estava em cima da mesa provocando a sua queda.
O garoto que prestava atenção se indaga e pergunta:
— Porque a régua caiu?”.
Porque eu esbarrei nela acidentalmente.
— Sim, mas porquê?
O pai, espantado com a pergunta e estranhando aquelas indagações pensou por alguns momentos e respondeu:
Por causa da gravidade.
—Hum... - murmurou tentando realmente entender o que aquilo poderia significar —Mas porquê?
O pai agora estava desconcertado com a pergunta e se indagou se não era uma brincadeira, mas o rostinho do seu filho não deixou dúvidas.
—Bom, porque tudo que tem massa exerce atração pela outra massa. Como a massa da terra é muito grande, ela acaba vencendo já que tem uma inércia muito maior e os objetos vão em sua direção.
Ao terminar sua resposta, o observou tentando conjecturar todas aquelas informações complicadas para a sua idade. Ainda era muito novo para entender toda aquela explicação.
Segundos depois, é surpreendido por mais um daquelas indagações:
Mas Porquê?
Depois de alguns momentos, seu pai foi franco:
— Bom filho, eu não sei.
A pergunta foi tão fundo nos fenômenos físicos do universo que para responder novamente deveria ser proposta teorias de comportamento da matéria ainda não comprovadas e a complicação seria enorme, e isto em simples indagações.
Agora, se fizéssemos isso para os comportamentos humanos, procurando as causas que resultaram naquele efeito? Para colocarmos em prática as camadas de entendimento, vou compartilhar o diálogo que tive com um amigo meu em uma viagem a trabalho.
Durante esta viagem conversávamos sobre um fato que havia ocorrido a pouco tempo. Uma mulher teria causado a morte do seu animal de estimação sem saber que estava sendo filmada. O vídeo teve grande repercussão na mídia e teve como justificativa o fato do cachorro ter feito xixi no tapete.

— Mas o que pensa sobre isso? — Perguntei.
— Horrível! Ela deveria apodrecer na cadeia — Disse ele com raiva.
— Sei que está com raiva, mas eu posso te fazer uma pergunta?
—Sim, claro.
—Porque ela fez o que fez?
—Como assim? — Perguntou sem entender onde eu queria chegar.
—Quero que me diga o que a levou a ser assim.
—Bom, eu não sei, porque ela não gosta de animais?
—Está me perguntando? Eu gostaria que você encontrasse esta resposta.
— Então, eu não sei. Acho que seria esta a resposta.
— Entendi. Você teria matado o animal? – Perguntei.
— Claro que não, nunca! – Respondeu quase se sentindo ofendido.
— Porque não?  - Indaguei novamente.
— Porque eu nunca mataria um animal. Eu gosto de animais.
— E ela não?
— Não! – respondeu sem nenhuma dúvida.
— E Porque ela não gosta de animais?
— Porque ela o matou – respondeu.
— Então só se mata o que não gostamos? Se você não gostasse de um animal você mataria ele?
— Claro que não – respondeu.
— Certo, mas porquê? Porque você não mataria e ela sim? – voltei a indagar.
— Porque eu não conseguiria fazer isso.
— Perfeito. Mas porque você não conseguiria e ela conseguiu?
— Porque somos diferentes.
— Exato. E porque vocês são diferentes? – indaguei.
— Porque tivemos criações diferentes.
— Sim, e porquê?
— Eu não sei, pais diferentes, família diferente, tudo diferente.
— Isso ai. Você está explicando o comportamento que ela teve. Está mapeando e resolvendo de maneira simplificada a pessoa como uma manifestação do que ela é. Você não mataria um animal mas ela sim.
— Mas ela poderia ter pensado antes de fazer isso? Ela sabia que era errado. – argumentou.
— Poderia? Quando alguém joga papel no chão, sabe que está fazendo algo errado, mas mesmo assim continua jogando.
— Sim, mas eu não jogo.
— Porque você não joga?
— Porque sei que é errado.
— Sim, e praticamente todo mundo que joga também sabe. Então a pergunta seria, se os dois sabem que é errado jogar, porque você não joga e o outro joga? – questionei.
—…Porque me ensinaram assim. – respondeu pensativo.
— Perfeito, porque passaram isso pra você como valor. Alguém que você admirava quando era criança mostrou isso e você estava apto naquele momento a aceitar e incorporar isso como um valor. Também o fato da sensibilidade já estar contigo, como herança que trouxe de outras existências. No caso dela, isso muito provavelmente não ocorreu, ou se ocorreu, seu momento evolutivo espiritual, sua sensibilidade não a permitiu captar e incorporar tais valores. Não existe nela a mesma sensibilidade que toca o seu coração. Como esperar de alguém uma sensibilidade que não possui?
—Mas ela poderia ter agido de uma outra forma. —Afirmou categórico
—Não diria que ela poderia, mas que não conseguiu agir de outra forma. Sabe um daqueles momentos que ao menos uma vez todo mundo passa, um surto de raiva? Se alguém chegasse até você naquele momento e te dissesse que poderia simplesmente deixar de ficar enraivecido, ficando calmo e deixando o que o incomodava para lá, o que aconteceria?
Eu não sei, talvez ficasse com mais raiva.
—Você conseguiria simplesmente abandonar aquela fúria mesmo sabendo que ela poderia ser prejudicial pra você e ou para outrem?
—Eu poderia conseguir.
—Sim, espero que na próxima você consiga, mas em uma anterior, você conseguiu se controlar?
—Não. Eu não consegui.
—Percebe como é muito fácil dizer que outra pessoa agiu errado, que poderia ter feito diferente, que poderia ter se controlado? Se esta pessoa pudesse agir de outra forma, muito provavelmente a teria feito. Agimos na verdade da forma que conseguimos agir, não como queremos agir. Ademais, não se pode querer algo sem que este "querer" seja possível a você.
Como assim?
—Alguém só quer melhorar porque isso passa a ser importante para ela, ou por que entende a dor que causa aos outros sendo de determinada maneira. Esta dor acaba impulsionando esta vontade, mas para isso é necessário que exista a sensibilidade a ponto de conseguir que este sentimento aconteça. Alguém mal só quer melhorar porque está em um momento evolutivo onde ser mal causa incômodo, desconforto, dor ou que a situação em que se encontra seja insuportável.
—Então quer dizer que ela não poderia ter feito diferente?
—Não, como já disse ela poderia, mas não conseguiu. Este "querer" não foi superior a raiva dela naquele momento. Ela ficou enraivecida com seu animal pela sua intolerância e insensibilidade. Ter inteligência e consciência de estar vivo não lhe dará controle sobre suas escolhas, porque tudo o que sentimos e damos valor é uma manifestação de como somos no íntimo. É por isso que muitas vezes agimos de uma forma contrária ao que sabemos ser o certo. A inteligência do ser humano muitas vezes torna tudo isso muito complicado.
—Então está querendo dizer que ela não tem culpa? – indagou.
De forma nenhuma. Ela é culpada pois transgrediu, além da lei do homem, a lei de Deus. Mas o que eu quero mostrar para ti é que ela agiu no limite do que é como uma consciência em manifestação. Ela não conseguiu agir diferente com o animal, pois isto foi um resultado do que ela é, da sua sensibilidade oriundo do seu momento evolutivo submetido às provas da vida. Ela não fez simplesmente porque escolheu isto, pois sabia o que estava fazendo e que era errado, mas sim não conseguiu escolher diferente. É difícil para ti compreender porque não compartilha da inferioridade moral e da fraqueza ou falta de sensibilidade que existe nela.
—Complicado não?
—Sim, é muito. E o complicador está na nossa individualidade. Se pudéssemos ser esta pessoa por alguns segundos, no momento em que agiu daquela forma, entenderíamos que ela agiu no limite do que lhe é possível, no momento em questão. Se buscarmos, em nós mesmos, em nossos limites, fraquezas, etc., vamos compreender que agimos como uma resposta ao que somos e que querer ser diferente é também uma resposta. Aos maus que não querem melhorar, só agem desta forma porque este "querer" ainda não foi possível de se manifestar em sua consciência atual. Com o passar do tempo, das experiências e da dor pelas escolhas providas da ignorância, ele entenderá e irá procurar se melhorar.

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Neste dialogo acima, tentei mostrar como normalmente as pessoas atuam sua análise nas camadas superficiais, mas não aprofundam o seu entendimento vasculhando o "porque" de determinada atitude de uma consciência. Esta busca nos conduz a um nível de indulgência muito profundo, porém a compreensão não vem apenas da inteligência, da capacidade intelectual, mas muito do coração, do sentimento.
Por fim, exprime com perfeição uma frase do filósofo Schopenhauer, citada algumas vezes por Einstein e que, apesar de complicada, toma o contexto abordado neste capítulo com um capricho impecável:






"Aprendemos e ensinamos caridade em todos os temas da necessidade humana. Façamos dela o pão espiritual da vida". (Emmanuel - Chico Xavier, do livro: ALMA E CORAÇÃO).


A lógica da falta de controle exposta em capítulos anteriores nos mostrou que todas as consciências deste universo em manifestação são e sempre serão o melhor que conseguem ser, donde não se possui o controle efetivo das suas escolhas, sendo em absoluto uma resposta cristalina ao que são em seu momento evolutivo atual, seu adiantamento moral.
Consagra então doravante sentimento de aceitação, na sua mais sublime concepção, pois agora a lógica auxilia tão grandemente a fé e ao sentimento de aceitação para com nossos irmãos. A indulgência é uma das características mais sublimes do amor fraternal que nos é tão sugerido por Jesus para aceitarmos os erros e fraquezas de todas as pessoas, coisas e fatos.
A aceitação sublime dos defeitos morais de nossos irmãos ganha força com a conjectura lógica exposta neste livro, para fortificar o sentimento que naturalmente se enraíza no coração conforme nos depuramos em rumo a Deus.
É um catalisador. A fé com lógica é infinitamente mais forte e viva e possibilita grandes transformações nos homens de boa fé. Aceitar os defeitos dos outros, sabendo-se que existe a falta de controle e de que são manifestações precisas de si mesmos, de seu momento evolutivo é muito mais fácil e natural.
A prova mais linda de indulgência ocorreu quando Jesus foi crucificado, onde disse algumas vezes: "Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem".  Eles não sabiam, não pelo fato de ser Jesus quem era, mas por serem insensíveis e crianças ainda no caminho do progresso. Este "saber" vai muito além de tomar conhecimento de um fato. Saber significa reconhecer no íntimo, na experiência. Não existia ali sentimento depurado para se importar com tal crueldade. Eram crianças, bebês ainda na estrada do progresso.

Como poderiam os que crucificaram Jesus agir diferente se em seu coração não existia ainda a sensibilidade para serem tocados? Jesus foi preciso e perfeitamente lúcido ao dizer estas palavras. Foi além, mostrando que sua indulgência vinha também da constatação da infantilidade espiritual de seus inquisidores. Jesus não foi crucificado pelos seus detratores por serem maus, mas por serem ignorantes e por intimamente não "saberem" o que somente a experiência nos caminhos da reencarnação podem prover.




"Auxilia e perdoa sem falar disso a ninguém" (Meimei)


Antes de mostrar o que considero como a maior manifestação de amor de Deus, precisamos partir de um ponto muito importante: Como é o seu Deus? É um Deus de amor, Soberanamente Bom e Justo?
É preciso responder a esta pergunta com sinceridade, pois um Deus soberanamente justo e bom não permite injustiça em parte alguma do universo. Se algo, em qualquer contexto possa parecer injusto é muito mais provável que não conheçamos os meandros dos mecanismos pelos quais Deus promove sua justiça do que considerá-lo injusto.
Tal lógica só faz sentido para os corações orgulhosos que ainda preferem um Deus incoerente e que não estão no momento de conseguirem aceitar desta forma. Neste livro Deus é soberanamente justo e bom, onde tudo o que Ele fez tem um propósito muito bem definido. Este Deus não condena nem julga, mas entende e aceita em um nível infinito. Tenha isto em mente e principalmente no coração, pois será o seu guia definitivo que mostrará qual dos caminhos que possam surgir em sua vida será o mais sensato.
Pensar que no universo exista injustiça é acreditar em um Deus que não seja soberanamente justo e bom.
Este Deus tem total controle sobre o que cria pois se assim não fosse, não seria Deus e existiria outro ser inteligente superior a este. Este Deus permite que tais coisas aconteçam. Oras, de duas uma: ou Deus não é bom ou estes fatos estão afinados com sua bondade e justiça.
Comumente alguns acreditam que Deus tenha um controle parecido com o que temos com as nossas criações; isto seria rebaixá-lo as nossas limitações. Seria incoerente pensar que Deus não tenha um controle absoluto sobre os acontecimentos que decorrem nas existências de suas criações. Acreditar em um Deus que permite injustiça seria desacreditá-lo.
Homens, o que é mais factível? Uma justiça inteligível para nós dada nossa limitação espiritual ou uma justiça perfectível? Não seria esta forma de pensar um resultado do nosso orgulho? No espiritismo, temos a possibilidade de entendermos logicamente como a justiça de Deus se mantém nas existências, sempre se cumprindo. Não estamos falando aqui de um juiz com características humanas, mas de Deus todo poderoso.
















"Aceita-te como és e aceita a vida em que deves estar, na condição em que te vês, a fim de que faças em ti o burilamento possível" (Emmanuel - Chico, do livro: COMPANHEIRO).


Para entender porque somos o que somos, precisamos entender o que seriamos em primeiro lugar.
Segundo o livro dos espíritos, somos todos espíritos criados simples e ignorantes por Deus por um motivo em particular. Este motivo se confunde amiúde pelo fato de não conseguimos efetivamente entender os propósitos de Deus. Independente disso, precisamos partir deste ponto: "simples, ignorantes e iguais".
Para os que procuram um livro como este, já está claro que não somos este corpo físico, mas que assim o utilizamos como meio de manifestação da consciência. A nossa inteligência, nossos sentimentos, talentos, etc., seriam tantos atributos deste espírito submetidos ao processo de experiência como encarnado.
O espírito então, com sua consciência atual, dotado de um meio de manifestação condizente com a condição do meio onde ele se manifesta (no nosso caso a terra) é uma resultante de todos estes mecanismos interagindo junto. Não somos um resultado da nossa educação, costumes, ensinamentos, exemplos, traumas, condições genéticas, mas sim tudo isso sobre a base do espírito que traz em sua bagagem o sentimento e a experiência de outras vidas.
Neste livro, trataremos todas as pessoas como consciências em manifestação. A razão para esta mudança é forçar a alteração de um paradigma existente quando utilizamos a denominação de "pessoa". Ao nos referirmos a estas como "consciências", procuramos observar que são muito mais do que aparentemente o senso comum nos sugeriria.
Estes estados consciências transitórios existentes em cada uma de nossas encarnações nos mostra que somos muito mais do que podemos naturalmente conceber. O próprio conceito de consciência se perde neste leque existencial que se abre. Afinal, o que realmente somos e como poderíamos conceber uma supra consciência neste contexto? Não sabemos. O que podemos tirar deste cenário em encanto progressivo é que somos muito mais do que nossa maturidade moral e espiritual ainda consegue compreender. Ao existirmos em múltiplas facetas de consciências (várias vidas mediante as sucessivas reencarnações), experimentamos uma forma contrária a individualização. Neste sentimento, que promove definitivamente a fraternidade e o amor ao próximo, nos aproxima gradativamente até a perfeição. Pouco a pouco nasce a empatia e a despersonificação da individualidade.
Uma última e importantíssima informação que deve sempre estar ativa nas nossas mentes é sobre a manifestação do espírito utilizando a matéria.
O espírito se manifesta através de uma interface. Assim como utilizamos o computador para nos comunicar com outras pessoas (computador seria a interface), o cérebro é a interface do espírito para manifestá-lo e intelectualizar a matéria. Toda a complexidade do cérebro se deve à esta interface. Os atributos não vêm dele, mas do espírito. A inteligência não vem do cérebro, mas através dele. Os aspectos morais e sensíveis não vêm do cérebro, mas do espírito.
Mas para que o espírito se manifeste na matéria, é necessário um meio material, físico, que funcione desta forma, através destes inúmeros mecanismos químicos complexos.
Esta interface também limita o espírito, pois assim deve ser, para propor provas diferenciadas que não existiriam caso esta interface possibilitasse uma manifestação integral das qualidades do espírito e também para promover expiação como um resultado de suas ações anteriores.

  

“Ninguém pode ver o reino dos céus se não nascer de novo; e insiste, ajuntando: Não vos espanteis do que eu vos disse, que É PRECISO que nasçais de novo.” (E.S.E)


— Mestre, como faço para me tornar sábio?
— Boas escolhas.
— Mas como fazer boas escolhas?
— Experiência.
—E Como adquirir experiência?
—Más escolhas.

Esta é, sem sombra de dúvidas a maior prova da manifestação do amor de Deus para com seus filhos. Realidade tão clara e evidente que nos foi entregue na terceira revelação, pelo livro dos espíritos decodificado por Allan Kardec.
É esta realidade que liga as nossas existências em indefinidas e sucessivas progressões do espírito. É a constatação da lucidez em pura manifestação e execução envolvida da máxima indulgência possível. É este então um tema indispensável para entendermos como Deus, em sua infinita bondade atua de forma a nos dar um exemplo desta lucidez. A abordagem que aqui farei é um pouco diferente de como é feita em outros livros, porem tão mais bela e sublime.
A Reencarnação é a ferramenta mais adequada para depuração da consciência, mas antes precisamos partir de dois pontos iniciais que consideraremos como certos.
O primeiro é que Deus seja absolutamente justo e bom. O segundo é que Deus tenha criado todos os espíritos iguais, simples e ignorantes, o que está de acordo com o primeiro já que para ser justo é necessário colocar as mesmas vantagens para todos os espíritos criados.
"A criação dos Espíritos é permanente, ou só se deu na origem dos tempos?
É permanente. Quer dizer: Deus jamais deixou de criar.”[17]
Com a criação ininterrupta dos espíritos, teríamos aí um problema: Como fazer com que evoluam e progridam em rumo à perfeição? Não serei tolo para me preocupar com o motivo que levaria Deus a criar espíritos para que se adiantem rumo a perfeição, pois esta é uma das perguntas das quais não nos é permitido ainda saber. Precisamos permear o véu que a nós é inconsistente inicialmente e procurar o sentimento que nos indica o caminho.
 “Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável"[18].
Não conseguiremos, ainda que muito tentemos, entender os desígnios da Criação de Deus, pois nem mesmo os espíritos de grande hierarquia luminosa conhecem tal desígnio.
"...Deus há de ter sempre criado ininterruptamente. Mas, quando e como cada um de nós foi feito, repito-te, nenhum o sabe: aí é que está o mistério.”[19]
Nessa conjuntura de criação incessante e à necessidade de depuração do espírito por algum motivo que, embora se tente explicar, estará ainda muito longe de conhecermos, temos a necessidade de uma ferramenta efetiva que funcione de forma profunda, intrínseca. Mas como fazer para que espíritos eternos, perpétuos consigam uma reforma íntima verdadeira e não estagnem na eternidade no mesmo nível evolutivo?
Embora saibamos que a resposta é a reencarnação, a justificativa se baseia em um conjunto muito bem elaborado que dá a este espírito a possibilidade de ser mais senhor de si mesmo. Mas como isto seria possível?
O espírito, eterno, guarda em si o resultado de todas as suas experiências anteriores. Define em si mesmo tudo o que deves ser e buscar, com o germe latente resultante da sua essência como filho de Deus, a direção que deve percorrer.
É inevitável, porém não nos indagarmos sobre algumas particularidades referentes a esta elaborada ferramenta de progressão do espírito. Uma delas está nesta pergunta: Porque temos que esquecer quando reencarnamos? Não seria mais fácil lembrarmos e sabermos sem a dúvida que nos deixa tão perdidos?
É a dúvida, meus irmãos que nos torna muito mais senhores de nós mesmos. É ela que nos possibilita sermos honestos com o que somos na forma mais intima e real possível. Quando deixamos este corpo material, caso estejamos em um momento evolutivo que nos permita reconhecer e entender esta passagem, encontraremos o mundo verdadeiro e, ao adentrarmos na erraticidade, passaremos algum tempo estudando e aprendendo.
Pela realidade inegável, patente que se apresenta acabamos com a dúvida sobre Deus e a continuidade da vida. Porém, ao retornarmos para um novo recomeço, passamos por um esquecimento de tudo isso. Seria então justo tal fato?
Devemos lembrar que o objetivo da reencarnação é a depuração do espírito em sua máxima representação, sem a roupagem ou manipulação que podemos utilizar para deturpá-la.
Entre o espírito e a realidade que experimenta, existe a consciência atuando, de forma transitória para manifestação deste espírito.
Não saímos da erraticidade como entramos. Muito pelo contrário, este momento serve para mostrar ao espírito o verdadeiro caminho que deve ser seguido e a realidade do mundo dos espíritos para que se arrependa e se endireite. Mas porque retornar? Não poderíamos, se seguíssemos à risca o que nos sugerem os bons espíritos, continuar sem reencarnar e viver para sempre na erraticidade?
Para responder a esta pergunta, vou contar uma experiência pessoal que tive: Estava conversando certa vez com minha esposa e acabei dizendo a seguinte frase:
Se eu não tivesse mais essa dúvida sobre o mundo espiritual seria tudo tão mais simples. Eu empregaria muito mais esforços para ajudar o próximo. Seria muito mais fácil se os espíritos simplesmente se revelassem categoricamente para nós.
Como habitualmente acontece, fui surpreendido com uma resposta inteligente:   
— Mas isso não faz sentido, se fizer caridade só porque que sabe desse fato não a estará fazendo de coração.
Sendo franco, não gostei da resposta. Também não fui capaz no momento de compreender o que a aquela resposta escondia. Nos dias que se seguiram aquele dialogo consumia parte do meu tempo e, como um estalo entendi algo que me fez compreender quão maravilhosa é a dúvida.
É esta, a dúvida que nos torna muito mais senhores de nós mesmos. Sem ela fingiríamos ser o que não somos e seriamos menos livres para manifestar o nosso real sentimento. Uma forma de entendermos isso é imaginar a seguinte situação: Vamos supor que todo o mundo espiritual se escancare de forma inegável e que todos, de uma hora para outra consigam ver e conversar com eles. Sendo assim todos passariam a ser médiuns perfeitos.
Agora imagine um Ateu nesta situação: como ele reagiria? Certamente todas as suas convicções seriam estranguladas e seus argumentos ateístas que sustentavam sua posição e que faziam sentido ao seu sentimento postas de lado. Ele seria coagido a acreditar no que se fazia real e passaria a atuar de outra maneira.
A dúvida para ele não existiria mais. Passaria a ser menos livre para acreditar no que fazia sentido a seu coração. É a dúvida, amiga intima do livre-arbítrio que possibilita ao espírito a honestidade de suas ações e pensamentos para com o que ele é no seu íntimo mais profundo.
Se lembrássemos da erraticidade ou das outras vidas de uma forma absolutamente clara, a dúvida do caminho não existiria e não se pode depurar uma consciência se ela não tem liberdade para ser o que realmente é; se falseia seus sentimentos e suas condutas.
Desta forma, ao retornarmos da erraticidade carregamos no íntimo o progresso que adquirimos nela e que resultara no sentimento que nos guia nesta vida. Tudo é sentimento. Como a depuração tem que ocorrer com o que é perpétuo, no caso do espírito, as múltiplas roupagens propostas pelas reencarnações colocam-no em condições honestas e verdadeiras neste cenário de experimentação.
Não somos nossa consciência de agora, nem a anterior ou a que está por vir. Somos algo muito maior que ainda não entendemos e são estas francas provações que nos possibilita a depuração verdadeira.
Antes, mesmo para os espíritos mais evoluídos reencarnarem, existe um notório desconforto neste regresso. Comumente se afligem sobre o que se dará, pois saberão que o que reencarnará não é sua consciência atual, mas seu espírito de forma absolutamente franca e honesta. Afinal, será que continuarão no caminho da verdade? Será que não sucumbirão as paixões tão irresistíveis? Será que não se desviarão do caminho na puberdade da adolescência? Eles sabem que não conseguirão se preparar decorando e forjando comportamentos.
Pois está ai o desafio. É por isso que vale tanto o sentimento verdadeiro que está no coração e não apenas nos lábios quanto a bondade e o amor. Se não for sincero, não está consolidado no espírito e muito mais facilmente este espírito na reencarnação poderá ser arrastado e desviado do sentimento que claramente o define na erraticidade.
Então antes de reencarnar este espírito na erraticidade se sente frágil, mas sua fé o sustenta nas provações francas que está por vir, na qual só pode preparar-se verdadeiramente.
Voltando para o Ateu que modificou sua atitude pela falta da dúvida, imagine que este retorne em sua reencarnação seguinte. Como não foi possível a ele uma mudança de dentro para fora, mas ao contrário, de fora para dentro, esta mudança não “cristalizou” em seu espírito, ficando apenas na crosta de sua atual consciência.

Apenas a mudança que vem de dentro para fora agrega efetivamente o progresso em seu espírito. Sem a necessidade do sentimento se manifestar e vencer os acontecimentos da vida unidos da dúvida, este movimento da mudança não ocorreria, ou ocorreria de fora para dentro.
Uma forma de perceber-se quão séria é a questão da dúvida está neste exemplo: Imagine-se indo para uma entrevista de emprego; você estudou sobre a empresa, fez e refez inúmeros testes e se preparou para ser o que a empresa procura. Em outras palavras, está mascarando o que você realmente é para se tornar competitivo à vaga e conseguir o emprego. É exatamente isso que não ocorre ao reencarnarmos: Não temos como nos prepararmos de forma a manipularmos o que somos e como reagiremos e assim seremos obrigados a sermos o que somos no mais íntimo e verdadeiro possível. Se não nos prepararmos de forma a mudar nosso íntimo (reforma íntima), pouco adiantará.
É assim que se faz tão necessário a experimentação do espírito do que aprendeu na erraticidade, mas de forma absolutamente franca, esquecendo deste tempo na erraticidade e das suas outras vidas.
A providencia é tão perfeita que até o fato de voltarmos e termos a necessidade de passar novamente pelas fases iniciais deste o nascimento, a puberdade, etc., constituem período essencial para a manifestação desta consciência. O espírito precisa passar por estas fases da vida para se definirem, pois representam um momento único da liberdade do espírito em se estabelecer, susceptível de todas as paixões que o mundo oferece. É um momento singular na abertura do seu espírito encarnado, suscetível de um modo particular a novas ideias que não foram encarceradas pela maturidade da vida.
É uma oportunidade diferente, dada exatamente por estas fases de crescimento, que não ocorreriam se o homem já retornasse da reencarnação em um corpo totalmente desenvolvido.
Quanto ao esquecimento das vidas passadas, além de ser pelo fato de se tornar obvio a continuação da vida após a morte, eliminando a dúvida sobre este fato, ela traria todo o tipo de experiências nocivas que marcaram a consciência e afetariam nocivamente a honestidade da experiência de reencarnação. Os traumas, dores, etc., seriam perniciosos. Como somos frequentemente unidos das pessoas que causamos ou nos causaram mal, esse conhecimento novamente colocaria por água abaixo a prova franca da reencarnação.
A reencarnação é definitivamente a prova mais clara da infinita indulgência de Deus. Como Deus não quer uma punição sem sentido, mas direcionada unicamente ao progresso de seus filhos, ele os liberta para um novo recomeço, um pouco mais livres do que foram e dos atos que cometeram, prontos para pagarem suas dívidas e faltas de maneira mais franca, honesta e verdadeira possível.
Agora observe toda a estrutura que existe e possibilita ao espírito ter uma nova oportunidade para melhorar. Uma gigantesca falange de espíritos evoluídos trabalha nesta ferramenta do progresso. É uma estrutura imensa que não julga, não critica, mas que entende ser a consciência o melhor que consegue ser, segundo ao seu adiantamento, seu momento evolutivo. Respeitam o direito de errar de cada espírito, direito cedido por Deus.
Estes espíritos são indulgentes para com as fraquezas, pois as entendem, as enxergam, as compreendem e principalmente não esperam mais do que podem estes espíritos em progresso manifestar. Isso é a lucidez na sua forma mais profunda. É um exemplo que Deus nos deixou como um quadro para que, no momento certo admiremos. É, a meu ver, uma das mais claras manifestações do Amor e indulgência de Deus para com suas criações.
Por último, a reencarnação tem um papel efetivo na empatia. O espírito mais evoluído é naturalmente mais empático. Ao passarmos na carne pelos problemas que muitas vezes causamos aos nossos irmãos, desenvolvemos este sentimento sublime. Isso só é dado pela experiência da reencarnação, o resultado deste caminho do espírito.
Com o espírito cheio de gratidão, agradeço a Deus por existir e fazer parte deste universo imerso em Amor, indulgência e lucidez.
“Depois, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança que nele deposita à criatura e a submissão desta à sua vontade.” [20]

Confiemos na Providência Divina e aceitemos no serviço do bem a nossa mais bela e melhor oportunidade a que denominamos: agora. (Batuíra - Chico Xavier - Do Livro: Mais Luz)


A auto observação por muitas vezes nos ensina preciosidades. Gostaria de compartilhar uma das minhas. Certa vez estava estacionando meu carro em um shopping quando recebi uma buzinada agressiva do motorista atrás. Imediatamente coloquei os braços para fora e gritei com o carro que estava pedindo passagem. Foi uma reação tão automática que logo depois fiquei espantado comigo, afinal como alguém que está buscando a lucidez tem uma reação não lúcida destas? Logo depois fiquei um pouco triste, pois não queria ter tratado aquele motorista daquela forma.
Fiquei assim por um tempo até entender que no universo essa é a principal força motriz para a transformação das consciências e que o meu erro, a minha falta de lucidez foi para o motorista um tesouro precioso permitindo a sua evolução como consciência. O motorista então estava em uma situação que o faria evoluir, independente da forma que iria agir. Estava sendo criada então uma oportunidade para ele, uma preciosidade que ele viria a utilizar da forma com a qual conseguisse.
Em outras palavras, nossos erros são tesouros para as consciências afetadas por ele, assim como o erro das outras consciências são tesouros para a nossa transformação e aprimoramento. Assim não existem desperdícios no universo, todos os erros como todos os acertos atuam de forma a transformar todas as consciências envolvidas na situação, constituindo um sistema muito bem feito.

Observando desta forma, percebemos como tudo e todos são ferramentas para o progresso de cada um individualmente, como também do sistema como um todo. "Como vedes, os processos de Deus são sempre os melhores e, quando se tem o coração puro, facilmente se lhes apreende a explicação"[21]   


  

"Cada espírito é um mundo por si". (André Luiz)


Depois de um tempo colocando em prática o que sugere a lucidez, aprendi algo muito interessante sobre ela: A pseudo Lucidez.
A pseudo lucidez acontece quando uma pessoa acredita que está realmente lúcida, consciente. A todo o momento temos muitas oportunidades de aprender alguma coisa, e qualquer pequeno aprendizado já é uma vitória no caminho do crescer espiritual para nos aproximarmos de Deus. A principal lição que devemos aprender sobre esta lucidez está em perceber o quão longe ainda estamos dela.
O momento em que ficamos menos lúcidos é exatamente o momento em que nós achamos mais lúcidos ou melhores que outras pessoas. É impossível vigiar a si mesmo a cada segundo do dia. Entender que ninguém tem 100% de lucidez já é um aprimoramento da própria lucidez.




Veremos a seguir um caso típico de pseudo lucidez, em um diálogo fictício que teria ocorrido com um grupo de colegas de trabalho, que após o expediente de um determinado dia, foram a uma confraternização em um bar próximo.
 Após algum tempo de conversas e bebidas, Carlos, um dos colegas reunidos na mesa, soltou um comentário não muito agradável a respeito de um rapaz que passava em frente ao estabelecimento onde estavam, e então uma discussão teve início:
— Olha ali pessoal! Olha o tipinho do cara passando ali.
Uma das colegas presente na mesa não gostou do comentário feito por Carlos e logo o repreendeu.
— Nossa, eu não acredito que você Carlos, um cara bonito e bem sucedido ainda tenha pensamentos retrógrados e preconceituosos.
— É... Eu não suporto essa raça Carla... Está cheio de mulher por ai e o cara escolhe isto. Você me desculpe, mas eu não concordo com esse tipo de coisa. A mídia trata esse assunto como se fosse a coisa mais normal do mundo. O Governo fica instruindo os professores a falarem sobre isso nas salas de aula, e os adolescentes de hoje em dia crescem com a visão de que isso é normal.
— Ah claro. Você acha que é simples assim, que ele escolheu ser assim? Acha ele pode simplesmente optar mudar o que sente!? Você nem sequer pensou nos motivos que levam alguém a ser assim?
— Olha, eu não vou ficar discutindo isso com você, na boa.
Carlos deu de ombros e deixou Carla falando sozinha e foi se despedindo do resto do pessoal.
Após alguns minutos, Roberto, um rapaz observador que assistiu a toda a cena entre Carlos e Carla, abordou calmamente Carla iniciando um novo diálogo:
— Carla, percebi que você não gosta de preconceito.
— Sim, eu odeio! Como pode alguém simplesmente julgar um comportamento sem tentar entender o que está por traz disso?  Eu não esperava isso do Carlos.
— Sim, eu entendo, mas e se eu te disser que você agiu da mesma maneira que o Carlos?
— Como assim!? Claro que não! Eu fui a única a repreender o comportamento dele.
Sim, você foi a única a repreendê-lo. Mas foi justamente por isso que você agiu da mesma maneira que ele.
— Como assim Roberto!? Eu não estou entendendo aonde você quer chegar.
— Então me permita explicar. Você não disse que o Carlos não deveria ter criticado o rapaz e que ele deveria tentar entender os motivos que levaram aquele rapaz a ser o que é, certo?
— Sim, eu disse. E o que tem isso!?
— Veja, da mesma forma que existe motivos que explicariam o comportamento daquele rapaz, também existe motivos que explicariam o comportamento do Carlos.
— Você me desculpa Roberto, mas ainda não estou entendo onde quer chegar.
— Existe um motivo para o Carlos agir assim. Pode ser algo que já nasceu com ele ou mesmo alguma experiência de vida pela qual ele tenha passado. Mas o fato é que ele só está agindo conforme a consciência atual dele, seus sentimentos, seus traumas e ao seu adiantamento moral. Quando você repreendeu o Carlos por ele ter tido preconceito com aquele rapaz, não o estava respeitando por ele ser diferente. Estava reprimindo o preconceito de Carlos com o seu preconceito.
— Que preconceito!?
— O preconceito do preconceito.
— Roberto, você está maluco. Foi Carlos que começou e preconceito é crime. Eu o estava repreendendo.
— Sim, eu sei. Você tomou uma posição excelente, mas se enraiveceu, o julgou e não tentou fazer o que disse que Carlos deveria fazer.
— Que seria?
— Tentar entender o que leva alguém a ser assim. Eu sei que são posturas diferentes, e a postura de Carlos é nociva e criminosa e a do rapaz, não. Porém, se tivesse conversado em particular com Carlos, sem fragilizar o ego que é particular de quem age assim, teria tido muito mais resultado, não acha?
— Hum...
— Você acabou sendo preconceituosa com o preconceito.
— Acho que entendo o que diz. 
 — Que bom que conseguiu entender tão rápido o meu ponto de vista. Outra coisa, o fato de ter repreendido ele foi a manifestação da sua consciência dentro do seu entendimento, apenas isto. Aplique o que pediu para ele fazer a si mesmo.
— Sim. Pensando assim fico triste por ter agido dessa forma.
— Não precisa ficar. Isso foi bom para Carlos pois ele terá a oportunidade de refletir sobre sua forma de pensar. Agora se ele irá ou não refletir ou mudar sua atitude, não está sobre o seu controle. Ele entenderá, ou hoje ou amanhã, no tempo que precisar.
*-----*
A situação retratada acima mostra de forma clara o que significa a pseudo lucidez. Carla acreditava que estava agindo de forma lúcida quando repreendeu Carlos pelo seu preconceito com o rapaz. No fim ela acabou por compreender que Carlos só estava agindo conforme conseguia agir, como resposta da manifestação da consciência dele e que ela poderia ter atuado de uma forma a promover uma tentativa mais assertiva para fazê-lo compreender o erro que cometia.

"Colocar-te ás na posição dos que sofrem, a fim de que faças por eles tudo aquilo que te desejarias se te fizesse nas mesmas circunstâncias" (Emmanuel - Chico Xavier). 


Um dos resultados mais satisfatórios que existem em conseguir enxergar o mundo sob este novo prisma está na auto lucidez, a lucidez sobre si mesmo.
Quando passamos a compreender que todas as manifestações das consciências são uma resposta patente do que são, passamos a compreende-las de uma forma muito diferente. Respeitamos seus aspectos mais abrangentes. A partir daí passamos a aplicar a mesma ideia a nós mesmos. Na verdade, deveríamos aplicar a lucidez sobre nós mesmos antes de aplicarmos nos outros.
O grande benefício se dá então pela aceitação dos nossos defeitos que nos acompanham. Esta aceitação evita uma auto punição, um entrave, consequência destruidora de quem almeja progredir mais rápido em direção à Deus.
Ao entendermos a nós mesmos, estamos mais aptos a entender nossos irmãozinhos. Quando nós aceitamos, uma paz, tranquilidade nos invade e alivia nosso espírito, nos dando mais força e energia para nos aproximarmos do nosso Criador. Quando não nos aceitamos, geramos conflitos internos que nos apresentam como entraves perniciosos ao nosso desenvolvimento. A convivência e aceitação para com o que somos no íntimo nos possibilita fazermos o mesmo com nossos irmãos. Afinal, também nos manifestamos no limite do nosso adiantamento espiritual e moral e somos o melhor que conseguimos ser.
Esta análise precisa estar presente o tempo inteiro, em constante investigação e verificação. Quando uma situação diferente ocorrer, perguntem-se a si mesmos se conseguiriam agira de outra forma. Se a resposta for afirmativa, se perguntem porque não agiram desta outra forma se existia tal possibilidade. Esta investigação tornará patente o que estou mostrando, que agimos neste limite, uma resposta transparente do que conseguimos ser.

"Corrijamos a nós mesmos, antes que o mundo nos corrija." (André Luiz, do livro: IDEAL ESPÍRITA)


São eles, estes grandes mestres que nos mostram lindamente o caminho que nos aproxima de Deus. Mas porque tais mestres existem?  Um Monge deu o seguinte significado a seu discípulo sobre o motivo de termos mestres para as consciências evoluírem.
— Imagine uma gota de orvalho. Ela está ali, parada, em equilíbrio. - Disse o Mestre.
Após algum tempo de observação do orvalho, continuou:
— Imagine que esta gota é uma consciência. Está ali, estática e assim ficará. Um grande mestre atuará de forma a promover movimento deste orvalho. Imagine que encoste com a ponta de um de seus dedos sutilmente nele. Quando encostar na gota ela cairá e continuará o seu caminho. Um grande mestre atua como atuou o seu dedo. Promoverá movimentação, quebra da inércia evolutiva, mas sutilmente, nunca forçando. Nas gotas que ainda não estão preparadas e são pequenas ainda nada acontecerá quando a tocar.
Estes grandes mestres são a chave para a lucidez e o desenvolvimento espiritual e cada um, da sua forma, mostrou ao mundo a realidade do espírito. Em todas as consciências que estes Mestres atuaram, somente aquelas gotas que estão prestes a cair se movimentaram. Os mestres são como um empurrãozinho para a consciência, para livrá-la de uma estagnação que poderia perdurar por muito tempo.
Para as gotas na qual não foi possível precipitarem-se com o simples toque dos dedos, esta interação não terá sido indiferente. Ao toca-la, parte da substância do dedo como suor, oleosidade, poeira, passariam para a gota de orvalho. Estas substâncias atuariam de forma diferenciada e a fariam necessitar de um menor tamanho para, por si mesma precipitar-se.
Mestres como Jesus, Buda, Krishina atuaram, cada um do seu modo a transmitir uma forma diferente de viver esse momento transitório do espírito e cada um teve o seu momento.
Dentre estes mestres da luz, Jesus foi, indubitavelmente o que teve um papel mais impactante e edificante neste contexto no mundo ocidental, proporcionando a toda a humanidade a entrever o caminho a ser seguido.
O mais bonito de tudo isso é que Jesus fez em 3 anos algo que permuta até os dias atuais, cada vez com mais e mais força, sem ter tido a necessidade de vinculo ou acordos com homens de poder e influência, sem utilizar de nenhum subterfúgio político e não teve a necessidade de manipulações estratégicas. Apenas seguiu com as suas verdades de caridade e amor. É o nosso principal exemplo a seguir para nos aproximarmos o quanto antes de Deus.

"De que valeria apresentar a fisionomia doce a Deus e um coração amargo aos companheiros do cotidiano, se todos eles são também filhos de Deus tanto quanto nós?" (Emmanuel - Chico Xavier)


  Quando reconhecemos certos mecanismos que Deus utiliza para promover o progresso das consciências em manifestação, algumas perguntas acabam surgindo naturalmente, como o mérito do nosso esforço quando atuamos no nosso progresso individual.
O problema está exatamente neste ponto: Qual é nosso real mérito sobre as nossas ações? É claro que temos mérito e é isso que nos garante um retorno no nosso esforço, mas, no caminho da lucidez este aspecto fica um pouco mais complicado.
O merecimento se dá quando uma pessoa passa a ser digna de recompensa ou punição pela forma como age. É uma moeda de recompensa para o espírito em ascensão à Deus e deve ser valorizada para que esta escalada aconteça, porém, quando analisamos a consciência percebemos o seguinte cenário: a consciência é criada simples e ignorante por Deus. No seu íntimo existe uma procura que o guia, ainda muito obscurecida, mas que o direciona.
Quando uma consciência é merecedora de punição ou de recompensa, existindo dentro da possibilidade do que ela é, sendo o melhor que consegue ser naquele momento, o mérito acaba ficando um pouco confuso.
Quando uma consciência é meritória de recompensa, digamos por exemplo por ter feito uma boa ação, isto só aconteceu porque para aquela consciência não ser caridosa seria muito mais difícil. Ela apenas agiu assim pois em seu íntimo agir diferente não era possível e seguiu seu sentimento.
Agora, como pensar em mérito quando a consciência foi criada por Deus e este lhe deu a direção intrinsecamente em seu espírito e as suas ações são consequência de um patrocínio fantástico na forma de reencarnação para que aprenda com os erros quantas vezes forem necessárias?
O que somos de bom foi totalmente patrocinado por Deus, desde o nosso início com a tendência como toda a estrutura existente para promover nosso progresso e nos tornar menos ignorantes.
Alguém só merece o bem porque está no momento de conseguir fazê-lo, assim como o mal. O mal por sua vez compreende apenas a presença da ignorância, a falta de empatia que apenas é aprendida com as sucessivas reencarnações e o tempo da consciência na erraticidade.
Se somos bons, isto se dá pelo nosso momento evolutivo e experiência adquirida; se alguém é verdadeiramente merecedor de alguma coisa, é o próprio Deus.
Quando pensamos em Jesus, precisamos tomar cuidado para não idolatrá-lo. De nenhuma forma estou dizendo que não tenha significado o que Jesus fez, e muitas vezes isso pode confundir. O que quero mostrar é que Jesus nunca poderia não ter feito o que fez, pois suas ações foram um resultado do seu momento evolutivo, seu adiantamento moral e espiritual. É de longe o melhor exemplo que temos para seguir, mas é necessário obtermos uma ideia bem definida do que foi Jesus e que, inevitavelmente chegaremos no mesmo momento evolutivo em que se encontrava quando veio a terra. Quem sabe não teremos a oportunidade de servirmos a Deus como um messias para um outro orbe no mesmo estágio de evolução que a terra?
Um outro exemplo lindo de espírito evoluído é a Madre Tereza de Calcutá, que viveu para auxiliar nossos irmãos. Admiramos nela esse desapego e amor pelos irmãozinhos pelo qual tanto se dedicou e muitas vezes acabamos por santificá-la, o mesmo que acontece com Jesus. Precisamos então afinar o sentido que damos ao reconhecimento para cada um. Madre Tereza nunca poderia não ter sido o que foi, pois seu íntimo era tão fustigado ao ver uma criança passando necessidade que não agir seria muito mais doloroso e socorrê-los passava a ser inevitável.
O verdadeiro reconhecimento neste caso seria entendermos que Madre Tereza é um espírito de muita evolução e nos inspirarmos em suas atitudes e não atribuir este mérito ao seu espírito. O mesmo ocorre com Jesus. Não devemos atribuir o mérito de suas obras a seu espírito, mas a Deus, pois tudo o que ele é foi totalmente patrocinado por Deus, desde a sua criação.
Desta forma, tudo o que é bom em nós nunca representaria, de uma forma lúcida mérito próprio, mas sim mérito de Deus. Na questão do mal que podemos vir a fazer, este sim compreende mérito integral nosso.
Apenas consagramos a nós qualquer mérito bom quando nos movemos pela vaidade e orgulho. Todo o bem que fazemos ou que viermos a fazer tem como causa única Deus.





— Eu não gostei do que você escreveu sobre Jesus, me senti ofendido!
— Tudo bem, eu sei que isso pode ofender e ferir, mas há de se pensar em algumas coisas: A primeira delas seria quanto ao seu orgulho ferido. Imagine Jesus lendo isso, acha que ele se ofenderia? Então porque está ofendido por ele? Outra, em nenhum momento disse que Jesus não é um espírito de luz extrema, muitíssimo mais evoluído que nós, certo?
— Sim, mas é como se você o tivesse rebaixado ao nosso nível.
Então não me fiz entender. Todos nós, eu você e Jesus somos filhos de Deus, criados inicialmente iguais, simples e ignorantes, o que consagra a sua justiça perfeita, pois se assim não fosse, dando a algum espírito vantagens ou desvantagens, não seria soberanamente justo. Certo?
— Certo.
— Então a diferença entre Jesus e nós é o tempo de experimentação na qual ele foi submetido para evoluir. No começo, ainda ignorante, no mesmo caminho que estamos passando agora, ele teve todas as vicissitudes, egoísmos, cupidez que temos agora. Ele passou pela mesma fieira da ignorância. Entretanto, avançou. A real diferença então é o tempo, apenas isso.
—Tudo bem, mas o espírito dele poderia ter progredido mais depressa que os outros.
—É isso mais uma resultante do orgulho e da vaidade do que da coerência lógica. Nos ferimos porque queremos um Jesus santificado. Se um espírito progride mais rapidamente que o outro, há nisso um efeito de uma causa. Oras, é incoerente dois seres idênticos que experimentam um mesmo cenário, digamos, mesmas experimentações terem resultados diferentes. Seria como se esperar dois efeitos para uma mesma causa. Se um espírito progrediu mais rápido que outro, a isso se deve outras causas, como a própria natureza da experimentação, mais favorável ao espírito naquele momento evolutivo que acabou facilitando seu progresso. Um exemplo disso pode ser dado se pensarmos neste espírito encarnado em uma família mais preparada para direcioná-lo a um caminho espiritual e o outro espírito em uma família menos preparada.
—Mas e se Deus tivesse planos específicos para ele e o orientasse de forma mais particular?
—Então ai estaria definido uma outra causa. Se os dois espíritos tivessem esta mesma orientação, teriam reduzido essa diferença de velocidade de progresso. Toda vez que procurarmos valorizar o espírito por si mesmo, estaremos caindo na vaidade e no orgulho e não percebemos que todos os méritos são de um ser supremo, do próprio Deus.
— É que assim você parece desvalorizar todo o trabalho que Jesus teve, está falando que ele só fez porque o tinha que fazer.
— Não quis desvalorizar o trabalho de Jesus, mas o que ele fez e como ele agiu foi uma resposta ao nível evolutivo dele. Ele não tinha que fazer, ele se propôs a isso e conseguiu, mas conseguiu pelo nível evolutivo que possuía.  A ideia é mostrar que Jesus foi o que foi como resposta a sua pureza de espírito e fez grandes coisas por este motivo.  A ideia no fundo era mostrar que não devemos santificar Jesus, mas entender o que ele foi e como chegou até ali e que todos nós, chegaremos também. Também o fato de Jesus já ter passado pelo mesmo momento evolutivo que passamos, inclusive os ruins. A ideia não era discutir os méritos, mas mostrar exatamente isso, que ele fez o que conseguiu fazer pelo seu nível evolutivo gigantesco. É difícil conceber o nosso mérito real quando tudo vem de Deus ou é uma resposta aos seus mecanismos, patrocinados por Ele.
— No caso de Madre Tereza de Calcutá, por mais que algo te incomode, não quer dizer que você vai fazer aquilo, não é?
— Isso mesmo, o fato de algo te incomodar não irá fazer você agir. Tudo depende do nível de incômodo. Se é insuportável, você não conseguirá suportar. Entende? Se o incômodo é suportável, relevamos. Ao vemos alguém passando necessidade, aquilo nos incomoda, mas você pode não ir até lá prestar auxílio. Conforme nos depuramos e adquirimos experiência, mais estas situações nos tocam e o incômodo passa a ser mais forte, até que, inevitavelmente passamos a fazer algo.
— Na parte que você disse que todo o mérito vem de Deus, não acredito que seja por ai, nós temos sim mérito próprio nas ações que tomamos, além do mérito de Deus é claro, só acredito que não podemos ter vaidade ou orgulho por este mérito, o que conta é a humildade e resignação.
— Aqui é um ponto bem complicado, mas profundo. Pense assim: fomos criados simples e ignorantes. Desde então, nosso aprendizado foi patrocinado pelos mecanismos de Deus, desde o princípio da criação, até o pendor interno que direciona para Ele. Todo o mecanismo de reencarnação que vai pela aquisição da experiência é promovido por Deus. Se alguém faz o bem, é porque se depurou, melhorou nas escolas da carne e por outros meios. Então, o que realmente não vem de Deus? O que fazemos de bom só acontece porque já não estamos tão embrutecidos e esse aprendizado veio pelo sistema que Deus nos proporciona. Mas o problema é o mérito. Temos um mérito sim, mas em uma camada superficial e ela é a moeda que vale em todo o universo para que as consciências consigam sempre caminhar para Deus. Mas analisando mais profundamente, tudo vem Dele e por Ele.
— Eu fico aqui com a impressão de injustiça, quer dizer que tudo de bom que eu fiz não é por minha causa, mais tudo de mau que eu fizer é culpa minha?
— Eu não diria desta forma. Você está efetivamente colocando em prática, transformando e exercendo o que vem de Deus, o bem. O mal que pratica é pela ignorância, da mesma forma que a escuridão é falta de luz. Não é responsabilidade da luz a sombra, essa é a forma necessária para que as consciências evoluam. Todas as leis de Deus que sejam violadas deverão ser pagas para que a consciência entenda e se melhore. Ademais, essa impressão de injustiça nasce mais do orgulho por termos o mérito que achamos que merecemos do que efetivamente por alguma injustiça.
— Mas, considerando que Deus seja todo bom e justo, aonde está a justiça de 2 espíritos "nascidos" ao mesmo tempo terem evoluções diferentes? Quer dizer que se um espírito der mais "sorte" e tiver um caminho a ser trilhado melhor ele vai evoluir mais?
— Ao não ajudar nenhuma consciência, ele não promove injustiça. Elas vão vivendo por um sistema. Claro que ao não promover exatamente as mesmas chances de se desenvolver e deixar a relativa "sorte" pode causar uma aparente injustiça. Essa "sorte" estaria atrelada as situações de infinitas possibilidades que acontecem na experimentação do espírito. Não existiria uma real necessidade de se ter todos os espíritos passando exatamente pelas mesmas situações e isso impediria que situações completamente novas fossem criadas...Talvez seja exatamente essa a vontade de Deus, mas compreender isto foge muito a nossa capacidade. Ademais, faz pra mim muito mais coerência acreditar em um Deus com uma justiça que eu ainda não compreendo totalmente do que supor um Deus injusto, não?






Diálogo VI


— No livro Lucidez diz que quando fazemos o bem é Deus e quando fazemos o mal não, mas Deus está em tudo, inclusive no mal. Por algum motivo podemos não entender, mas está lá.
— O mal não é Deus e não está Nele, pois se Deus fizesse o mal ou tivesse qualquer partícula de maldade Ele já não seria Deus, e participar do mal é ser conivente com ele.
— Mas isso é o que nós entendemos por maldade. Se maldade é igual a ignorância e ignorância é falta de experiência...
—Exato.
—Então Deus propõe ganharmos experiência. Assim a maldade é uma oportunidade.
—Acredito que seja quase isso. O que é uma oportunidade é a lei de causa e efeito acontecendo. A maldade é o ato em si que representa sua ignorância.
—Isso considerando uma pessoa, mas a sua maldade gerou a oportunidade de alguém te perdoar, ou agir bem de qualquer outra forma. Então em uma visão macro o ato mal de alguém é o bem para outrem, então é o caminho que Deus criou para que, sem desperdício todos evoluíssem.
—É isso mesmo! Por isso digo que não é responsabilidade da luz a sombra que ela deixa para trás.
—Porque não?
—Porque não é uma escolha consciente.  É um efeito das coisas. A luz não fez a sombra.  Ela a gerou como resposta ao seu efeito material. Mas ela não foi lá e fez a sombra, conscientemente. Seria o mesmo que culpar você de ocupar um lugar no espaço. Isso é totalmente independente de você.
—Fisicamente falando não tenho contra-argumentos, mas tomando o conceito de que Deus está em tudo, em todo o instante na eternidade, e tudo é "programado" por ele, então a forma com que você vai agir foi influenciada por ele, Não?  Sendo assim a maldade também seria patrocinada por ele e isso só é ruim para a nossa humilde percepção.
—Deus está em tudo?
—Sim. Porque ele é onipresente e onipotente.
—Quando você cria algo, você está ali? onipresente é que está em toda parte, não que é tudo. Estar e não ser.
— Sim, mas estar em tudo e influenciar no destino das suas obras seria gerenciar tudo, não?
—Gerenciar sim. Permitir que o livre arbítrio aconteça é gerenciar.
—Sim
—Não podemos responsabilizar Deus por permitir que o mal aconteça, ainda mais sabendo que é um efeito de nossas más ações. Isso é justiça e como Deus é bom e misericordioso, pagamos sempre menos do que a contra partida.
—Então também não o podemos responsabilizar pelo bem. Não é proporcional?
—Seria proporcional se não existisse a reencarnação e a legião de anjos do bem a nos ajudar.
—Espera, meu senso lógico se perdeu. Deus está presente, influenciando. Se agirmos mal é nossa responsabilidade, mas se agirmos bem é obra de Deus. Soa ilógico.
—Olhe por este ponto de vista: Ele que patrocinou tudo. Se você errar, quem vai lá te ajudar e dar outras tantas oportunidades de aprender? Quem colocou em ti o sentimento de buscar por Ele? Quem fez este mecanismo incrível de "contabilização" de causa e efeito? É Dele tudo isso. Ele é quem nos matriculou, nos criou, nos orientou e colocou sempre um anjo a nossa porta. E aí se fazemos o bem…isso é mérito nosso apenas em uma visão circunscrita e relativa, mas na visão geral, na "big picture", todo o mérito é Dele.
—Mas quanto à influência?
—Ele está aí e influencia pelos espíritos que são uma potência da natureza. Nosso anjo não nos sugere só coisas boas? Não é Deus aí agindo no final das contas?
— O que quero dizer é que a influência tanto para o bem quanto para o "mal" viria dele, pois o seu mal é o bem para outro e um futuro bem seu.
—O mal é escolha. Ninguém no universo tem por missão fazer o mal, apenas o bem. Os acidentes no caminho é que são utilizados habilmente por Deus para nos corrigir. Deus só influência no bem e permite o mal Desde que este seja JUSTO.
—Mas, e a oportunidade que uma pessoa má te dá de evoluir não seria uma "missão não compreendida por nós"?
—Pode ser um resgate da lei de causa e efeito e isso é permitido, mas Deus não faz o mal. Se assim fosse não seria Deus, pois é isento de qualquer vicissitude que a imaginação do homem pode conceber.



















Enquanto houver um gemido na paisagem em que nos movimentamos, não será lícito cogitar da felicidade isolada para nós mesmos. (Emmanuel - Chico Xavier)


O perdão, quando começamos a enxergar os mecanismos de Deus de uma forma lúcida é catalisado, facilitado. Afinal, ao conseguirmos entender que cada consciência se manifesta no limite da possibilidade de seu adiantamento moral, começa a parecer estranho não perdoar.
 Esta visão lúcida torna muito mais fácil a prática do perdão. Não estamos falando aqui daquele perdão superficial, mas do perdão pelo coração, do sentimento. É lembrar sem sofrer, sem se magoar.
O perdão sem esta nova visão é, a meu ver muito mais sublime, pois parte de um adiantamento moral muito grande oriundo do sentimento. Afinal, é muito mais difícil se perdoar achando que quem fez o mal poderia, de uma forma simples não tê-lo cometido simplesmente. Porém, esta forma de sentir é muito mais rara e representa um adiantamento muito grande.
O perdão com esta nova visão é diferente, pois mesmo com o mal realizado, sabemos muito mais pelo que permeia por entre os fatos. Nos colocamos em uma perspectiva de observador complacente, empático ao nível evolutivo daquela consciência que fez o mal. Esta nova forma de compreender a vida é um catalisador muito eficiente para o perdão, podendo em muitos casos fazê-lo perder o sentido.
Deus não precisa perdoar, nunca precisou. O perdão só faz sentido aos espíritos ainda obscurecidos pela ignorância. Jesus nunca teve que perdoar, pois sua compreensão e sentimentos entendiam com primor os meandros do progredir infinito de Deus e os grilhões que amiúde tolhiam as atitudes dos nossos irmãos.
De qualquer forma, o perdão é necessário, pois precisamos dele ainda. Precisamos como forma de ressarcimento das nossas faltas, dos crimes a que teremos que prestar contas. Se alguém nos pedir perdão, é caridade perdoar, mesmo que saibamos ou que estejamos adiantados moralmente a ponto de não ser mais necessário o perdão. Afinal, como perdoar uma consciência quando nos é patente que ela se manifestou na amplitude do que é no íntimo do seu ser? Perdoar o inevitável passa a não fazer mais sentido.
Quando compreendemos nossos irmãozinhos, nasce uma certa ternura paterna de um pai para seu filho ainda muito jovem. É um sentimento infinitamente inferior ao que Deve existir no coração de Deus, de indulgência infinita.

  

Entreguemos ao Senhor as lutas estéreis a que somos tanta vez provocados, e prossigamos, com Ele, no trabalho edificante do Bem. (Bezerra de Menezes)


Existe uma ideia muito estranha quando começamos a pensar nesse assunto, neste cabo de guerra entre o bem e o mal.
Mas como poderia Deus ter criado a maldade? Não precisa pensar muito para entender que a maldade é um resultado das ações de consciências ainda não muito adiantadas, ignorantes e inexperientes.
É importante entender que tais consciências nunca evoluiriam se não sofressem; estagnariam sem a dor. As consciências que conseguem evoluir sem sofrimento não pertencem mais a este mundo. Oras, isso é fácil de ser verificado, basta uma autoanálise: Como você evolui neste mundo sem o incômodo? Sem a dor de permanecer na mesma condição? É ai que entra a ferramenta denominada sofrimento, o melhor catalisador para a espiritualidade. Sem ele não evoluímos, não teria como. Sempre iremos para o nível de menor energia.
Não existe braço de guerra entre o bem e o mal, mas sim um caminhar lado a lado. O Mal é, em certo momento tão necessário quanto o bem, pois ele é o incômodo insubstituível para que o bem se manifeste. O que existe é somente Deus, mas se manifestando de infinitas maneiras diferentes. O mal é então uma ferramenta, um alicate espiritual na qual Deus se serve para estimular o espírito a se aproximar do Dele.
Quando conseguimos observar o mundo de forma lúcida, percebemos que o mal não passa de uma manifestação inevitável da consciência pela fieira da ignorância e que ele representará para as nossas consciências a melhor oportunidade de evoluir infinitamente.
O mal é totalmente necessário. Uma das formas de entender isso está em observar alguns ícones que se manifestaram na terra. Por exemplo Steve Jobs, uma pessoa muito difícil de lidar, tratando quase todos de uma maneira agressiva em busca de seu objetivo. Poderíamos considerar esta sua atitude como malévola. Porém, estes ícones fizeram um progresso incrível para a humanidade, fazendo-a alcançar patamares que as vezes demorariam muito tempo para acontecer. O fato de Steve Jobs ignorar por não conseguir, pelo sentimento, compreender que as pessoas são mais importantes que os objetivos que buscava terá impacto muito forte sobre sua vida futura, pois será responsabilizado por todas as leis de Deus que tenha violado. Independente disso, a sua volúpia pelo perfeccionismo foi essencial para este progresso. É o mal utilizado como ferramenta para o progresso da humanidade.
Se, por efeito de hipótese todos já estivessem livres do orgulho, vaidade e egoísmo, o progresso seria muito afetado, pois dificilmente alguém empregaria tempo em enriquecer, desenvolver algo maravilhoso por este simples fato. Teríamos muito mais atividades altruístas do que estas últimas e isso afetaria o progresso em si, o desenvolvimento de tecnologias novas. Aqui está um arranjo incrível dos mecanismos de Deus onde nada é desperdiçado. Todo o mal é servo do progresso e do adiantamento e em mundos no nível da terra (de provas e expiação). Sem ele, estagnaríamos no progresso intelectual, tecnológico, científico, etc., e o progredir está nas leis de Deus.








"Estime a solidariedade. Você não poderá viver sem os outros, embora na maioria dos casos os outros possam viver sem você. " (André Luiz)


Qual seria o caminho para o amor incondicional?
Amor incondicional é aquele amor que não coloca condição para se estabelecer. Ele existe independentemente de qualquer coisa. É como se separássemos as consciências em essência e atitudes e o foco estaria sempre na consciência.
Acredito que existem duas formas para o Amor incondicional acontecer e as duas andam juntas. A primeira, para as consciências mais evoluídas, consistiria no seu íntimo a resposta inconsciente do amor que vibra a sua verdadeira natureza espiritual. Seria como o amor incondicional puro, que se manifesta inconscientemente.
Existe outro, entretanto, muito mais fácil de se estabelecer. O Amor incondicional pela Lucidez. Claro que os dois andam juntos. Ao conhecermos mais sobre a lucidez e entendermos, ou ao menos tentarmos entender o que motiva uma consciência a fazer algo, estaremos naturalmente caminhando para o amor incondicional pela lucidez.
O amor incondicional lúcido se estabelece ao percebermos que todas as consciências se manifestam como um resultado de si mesmas, de seu momento evolutivo e sua situação na terra. 
Precisamos tentar entender as consciências que se manifestam ao nosso lado. Ao entender ou tentarmos entender uma consciência e o motivo para que se manifeste de alguma forma em específico, naturalmente nascerá uma ternura pela consciência, pois saber-se-á que no íntimo desta, esta foi a única forma possível de manifestação.
Entendeis, meus irmãos, que cada consciência neste universo é o melhor que pode ser. Mas se não conseguirem entender, porém, esta é apenas a sua forma de se manifestarem dentro do seu momento evolutivo.




"Ilumina de amor tudo quanto disseres. Quem te roga a palavra requer a bênção de Deus." (Emmanuel)


A indulgência talvez seja o mais perfeito sinônimo da lucidez segundo o espiritismo. Aceitar as falhas é algo muito elevado, objetivo de todo aquele que almeja progredir rumo a Deus. Mas ainda falta um atributo à indulgência perfeita, a humildade.
Ao aceitarmos as falhas dos nossos irmãos, muitas vezes nos colocamos de certa forma acima deles por estarmos certos e eles errados. Surge então uma indulgência prepotente. Embora fuja um pouco do tema lucidez, gostaria de colocar aqui esta ideia pois todos que pegaram este livro para ler tem interesse certo na evolução e no seu progresso espiritual.
Usando do neologismo, criei a humilgência, uma evolução da indulgência, a união da humildade com indulgência. Enquanto que na indulgência aceitamos o que achamos que seria uma falha, na humilgência aceitamos o que poderia ser uma falha, um defeito, e deixamos evidentes a possibilidade de estarmos errados neste ponto. Aceitamos então o que nem poderia constituir uma falha real.
Quantas vezes não recorremos de forma errada sobre um fato? Precisamos sempre nos colocar como possuidores de uma possibilidade, tanto quanto ao que acreditamos ser a verdade ou ser o correto. Não seria a indulgência perfeita, a indulgência humilde? Sabe-se com certeza que nossa limitada compreensão das coisas de Deus nos faz capaz totalmente de sabermos o que é verdadeiramente certo? Temos bons exemplos sobre como agir, mas as variações dos fatos do cotidiano podem tornar difícil distinguir o que é ou não é o correto de forma definitiva.
Precisamos sempre nos policiar, saber separar a fé da crença para que isso não nos leve a nos fecharmos para a possibilidade de estarmos errados. Dessa forma, o caminho mais seguro é a humildade com a sua crença e o amor com as suas atitudes. Que melhor forma de representar isso?

"Não critiques. A lâmina de nossa reprovação volta-se, invariavelmente, contra nós, expondo-nos as próprias deficiências" (André Luiz).


Estive pensando algum tempo no conceito de evolução e de como cada consciência evolui de forma graduada. Mas e aquelas consciências que retrocedem da evolução, regridem e sucumbem a antigos pendores? 
Vou tentar mostrar como o retrocesso apenas existe quando não se observa o todo.
Olhem como é fascinante este "mecanismo" da evolução. Imagine que uma consciência tenha evoluído a um certo nível, mas logo depois tenha um retrocesso, caindo nos mesmos maus pendores na qual tinha já superado. Depois de algum tempo evolui novamente e depois de mais algum tempo ocorre um novo retrocesso, uma nova queda.
Neste vai e vem de avanços e retrocessos ela finalmente consegue sair deste ciclo. É parecido com aquelas pessoas que conseguem parar de fumar apenas após a terceira, quarta tentativa ou mais.
Se para esta pessoa conseguir parar de fumar foram necessárias 3 ou 4 tentativas, não seria cada fracasso um caminho necessário para se conseguir parar de fumar? Em outras palavras, não seria cada retrocesso da consciência totalmente necessário para que ela conseguisse efetivamente superar e evoluir de forma consistente? Ficar perdido não é necessário para se encontrar o caminho?
Observando de forma mais abrangente, não existe nada que não seja a própria evolução, pois um retrocesso na evolução é a própria evolução em manifestação, seu caminho, sua jornada. Afinal, como poderia uma parte do caminho não ser o caminho? Este é o motivo pelo qual no espiritismo apenas se utiliza o termo de retardo para aquelas consciências que não conseguem progredir continuamente e acabam cedendo a pendores aparentemente superados, levando mais tempo para progredirem, mas não estariam estagnados e cada recesso é fundamental para que ela consiga cumprir seu papel evolutivo inevitável.



— Pelo o que eu estudei até hoje, você nunca volta na evolução, o que acontece é você ficar parado, mas nós nunca voltamos, existem espíritos sim que são rebaixados de esfera, mas é porque eles estão a muito tempo parados na evolução e precisam de um estimulo para voltar a se desenvolver.
— Aqui a ideia é bem direta. Estes espíritos não retrocederam, o tempo de sofrimento lhe nutriu de experiência do caminho e da dor e estes sentimentos ficam agregados no seu espírito. Nas outras esferas, eles estarão diferentes, foram sim rebaixados, mas trazem em si esta experiência e isso será importantíssimo para que consigam progredir novamente. Por isso, não há retrocesso, e sim uma contínua evolução, mesmo que pareça praticamente estagnada.






A algum tempo chegou em meu e-mail uma carta que correu a internet. Achei interessante incluí-la no livro para um estudo lúcido das relações humanas, mas sob o prisma proposto aqui. Segue:









TRADUÇÃO:
Cara Christine,
Você me desapontou como filha. Você está certa sobre termos uma “vergonha na família”, mas errou sobre qual.
Expulsar seu filho de sua casa simplesmente porque ele disse a você que era gay é a verdadeira “abominação”. Uma mãe abandonar o filho é que “é contra a natureza”.
A única coisa inteligente que ouvi você dizer sobre tudo isso é que “não criou seu filho para ser gay”. Claro que não criou. Ele nasceu assim e escolheu isso tanto quanto escolheu ser canhoto. Então, já que esse é um momento de abandonarmos filhos, acho que chegou a hora de dizer adeus a você. Sei que tenho um fabuloso (como os gays dizem) neto para criar e não tenho tempo para uma filha que é uma vadia sem coração.
Se encontrar o seu coração, ligue pra gente.
-Papai
*-----*
Esta é uma carta muito interessante e muitos concordarão com a postura do pai da filha que abandonou o seu filho, por ser gay. Vamos analisar então sobre o prisma da lucidez segundo o espiritismo.
Primeiramente, não sabemos o que aconteceu. Observando esta névoa levantada pela carta, temos a tendência de existir um filho maravilhoso que apenas foi abandonado pelo fato de ser gay e uma mãe muito ruim que o abandonou. Não sabemos dos detalhes, da postura do filho, de sua revolta pelo fato de ser gay, problemas espirituais, etc., mas vamos deixar tudo isso de lado, pois não teríamos como mapear estes acontecimentos.
No trecho: “Ele nasceu assim e escolheu isso tanto quanto escolheu ser canhoto.”, fica evidente que o filho era como conseguia ser. Ser gay ou canhoto era a sua manifestação. Nos trechos seguintes à mesma forma de se observar deveria ser preservada, mas se perde pela falta de indulgência com a mãe. Como o filho não conseguiu não ser gay, a mãe não conseguiu não abandoná-lo. É preciso neste ponto abrir o coração para a lucidez. Uma mãe que abre mão do filho, está abrindo mão da natureza interna de sua condição de “mãe”. Se a sua repulsa pelo fato do filho ser gay é maior que esta natureza latente, é uma grande repulsa, e se isso ocorreu foi porque não conseguiu reverter esta situação. Em outras palavras, ela não conseguiu suportar este fato, sendo isto um efeito de uma causa. Deveríamos então perguntar porque ela não conseguiu? Se não existiu amor suficiente, existe um motivo para existir tal amor no avô e não nela. Se existiu repulsa, uma outra explicação existe para explicar este fato. A manifestação da mãe é uma resposta ao seu nível evolutivo, seu adiantamento moral e intelectual.
O Avô, apesar de superficialmente parecer correto em acolher o neto, ele age de uma forma muito parecida com a filha, indicando talvez de onde ela tirou parte deste comportamento. Ele não aceitou ela por não ser o que gostaria que fosse, da mesma forma que ela não aceitou o filho por não ser como gostaria. Faltou indulgência, a mesma que faltara nela para com o filho. São muito parecidos, pois um não suportou por ser preconceituosa e o outro não suportou por ser preconceituoso com o preconceito.
Vou reescrever a carta sobre uma forma lúcida e espírita de enxergar a situação:

            Cara Christine,
Você me desapontou como filha. Você está certa sobre termos uma “vergonha na família”, mas errou sobre qual.
Expulsar seu filho de sua casa simplesmente porque ele disse a você que era gay é a verdadeira “abominação”. Uma mãe abandonar o filho é que “é contra a natureza”.
A única coisa inteligente que ouvi você dizer sobre tudo isso é que “não criou seu filho para ser gay”. Claro que não criou. Ele nasceu assim e escolheu isso tanto quanto escolheu ser canhoto.
Ele fez o que conseguiu fazer, assim como você está fazendo o que consegue, mas abandoná-lo não é o melhor caminho e lhe trará mais dor do que alívio. Precisamos respeitar nele as suas decisões e amá-lo como eu amo você, mesmo me decepcionando tão profundamente com esta atitude triste. Pense no que está fazendo, é realmente tão importante a opção sexual do seu filho? Acredita mesmo que é pior um gay do que uma mãe incapaz de demonstrar amor e aceitação para com ele?
Pense sobre isso e quando encontrar a resposta e ela for o amor, ligue para nós e estaremos lhe esperando de braços abertos.
-Papai











"Todos são e sempre serão o melhor que conseguem ser, no limite do seu momento evolutivo" (Autor)


Todos tem o direito de errar. Este direito foi outorgado por Deus. É então um direito supremo. A lucidez segundo o espiritismo valida isso e explica exatamente o mecanismo que o justifica.
Lucidez seria a ausência de algo que possa obscurecer. Cristalinidade, limpidez, realidade.
É esta lucidez que possibilita entendermos, em um outro nível como todas as consciências atuam, sem nenhum átomo de julgamento. É também uma tentativa para entender a lógica por trás de todos estes subsistemas de Deus. Afinal, como simplesmente perdoar tantas agressões, injúrias, maldades de uma forma real sem entender que todos são o melhor que conseguem ser?
Quando começamos a observar as consciências como manifestação absoluta do seu íntimo, do seu adiantamento moral e espiritual, passamos a entender seu comportamento. Independente da maldade que existe no coração de determinadas pessoas, elas só agem desta forma porque não conseguem sentir de uma outra forma. Tudo parte da sensibilidade que existe no íntimo e que move cada um de nós.
Não podemos esperar sensibilidade de alguém que no íntimo está embrutecido pelo seu momento evolutivo, nem esperar brutalidade de um espírito mais depurado. Também não faz sentido esperar grandes coisas de espíritos que ainda não tiveram tempo para crescer.
A lucidez então atua como um catalisador para o amor, a benevolência e sem dúvida para a indulgência. É difícil, no nosso atual momento evolutivo conseguir seguir, unicamente pelo coração estes sublimes atributos e, pela conjuntura lógica da falta de controle da consciência isso se torna muito mais fácil.
O espiritismo nos mostra a indulgência pela lei da reencarnação, dando a cada um que errou a oportunidade para se corrigir e progredir. A lei da causa e efeito torna patente a subjugação da consciência como origem para o que é e o que sente e está de acordo com o livre-arbítrio determinista. O amor de Deus e todos os seus mistérios dão ao homem liberdade a um nível ainda desconhecido pelo livre-arbítrio indeterminista.
Também nos mostra, logicamente como e porque os espíritos sublimes de alta hierarquia conseguem demonstrar tanto amor para com seus irmãos, pois compreendem, se não efetivamente na conjuntura lógica aqui apresentada, pelo sentimento e experiência, o que constituiria sem dúvida um maior adiantamento.
Cada irmão nosso, que nos fere, atua pela fieira da ignorância e não sabe (saber no íntimo) o que está fazendo, e esse é o que mais precisa da nossa ajuda para progredir. Ele, como nós, não tem o controle efetivo de suas escolhas e não consegue ainda atuar em parceria com o bem, da mesma forma como não temos tal controle efetivo para atuarmos em parceria com o mal, sendo todos nós o melhor que conseguimos ser naquele momento evolutivo em particular.
Ser lúcido não constitui ser ocioso ou conivente, muito pelo contrário. Ao entendermos os meandros pelos quais muitos mecanismos atuam, nos tornamos menos ignorantes e mais corresponsáveis. Quando passamos a entender que nossos irmãos só são o que são por não conseguirem se manifestar de outra forma temos meios muito mais eficazes para ajudá-los. A própria caridade da indulgência, intrínseca na lucidez já é uma excelente ajuda, pois ao invés de críticas, daremos compreensão pelo entendimento profundo. Aceitar não é ficar parado, mas agir de outra forma, procurar outros meios, tentar de outra maneira.
Aceitação é diferente de conformismo com o mal. Aceitar os outros é observar suas limitações com a finalidade de estuda-las e transforma-las. Aceitar limitações é muito diferente de aceitar os erros[22].
"Conhece bem pouco os homens quem imagine que uma causa qualquer os possa transformar como que por encanto. As ideias só pouco a pouco se modificam, conforme os indivíduos, e preciso é que algumas gerações passem para que se apaguem totalmente os vestígios dos velhos hábitos. A transformação, pois, somente com o tempo, gradual e progressivamente, se pode operar."[23]
Outra ideia que deve ficar clara é que aceitar e compreender de forma lúcida está muito longe da estagnação evolutiva. Esta nova forma de observarmos o mundo não deve criar espíritos ociosos e inativos, mas pelo contrário. Ao entendermos tão indulgentemente uma consciência em manifestação encontramos meios mais precisos para melhorá-la. Agimos de uma forma mais amável e pelo exemplo damos meios mais eficientes para promover tanto a nossa própria reforma íntima como a reforma íntima dos que estão a nossa volta.
Por fim, o verdadeiro reconhecimento, quando atuamos pelo bem não é nosso, mas de Deus, pois apenas fazemos o bem por termos aprendido e ganhado experiência neste caminho. Esta experiência foi patrocinada totalmente pelos processos criados por Ele, que são sempre os melhores. 
De todo o meu coração, que este livro possa amplificar a sua indulgência, ou melhor, a humilgência para com nossos irmãozinhos, pois todos somos e sempre seremos o melhor que conseguimos ser.
Paz em Cristo.



  

"Todos tem o direito de errar. Este direito é concedido por Deus. É então um direito supremo". (Autor)


1.                  Sempre tratar todos os seres vivos como consciências em evolução.
2.                  Nunca tentar convencer alguém. Estar lúcido é saber que cada consciência tem o seu momento.                                               
3.                  Não se revoltar. Onde existe revolta não existe a compreensão do momento evolutivo das consciências naquele momento e representa mais orgulho do que outra coisa.                
4.                  A raiva é sinal de baixa lucidez, porém é natural ficar com raiva. Apenas tenha em mente que estar enraivecido é contrária a lucidez.
5.                  Nunca julgar uma consciência. Um único átomo de julgamento é a forma mais clara da falta de lucidez.
6.                  Aceitar a falta de lucidez das consciências e inclusive da sua própria. É mostra de Lucidez entender a nossa própria falta de Lucidez.                  
7.                  Enxergar que as nossas falhas são maravilhosas oportunidades para a evolução das consciências ao nosso redor e que as falhas deles, para a nossa.
8.                  Entender claramente que o mérito e a maldade são apenas manifestações de um determinado momento evolutivo da consciência.
9.                  Procurar não se punir ou alimentar o remorso. Enxergar-se como uma consciência em evolução é respeitar seus erros e limites como manifestação natural do seu nível evolutivo.
10.              Nunca Replicar. Ao replicar não se compreende o nível de entendimento da consciência. Não Replique, não confronte, apenas mostre suas ideias como mostra a alguém uma flor.
11.              Sempre trocar a expressão "não quis" para "não conseguiu".
12.              Perceber que tudo está exatamente em seu lugar e que todas as consciências são e sempre serão o melhor que conseguem ser.











[1] Cora Coralina
[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo Capítulo XXIII parte 14.
[4] . Doyle, A.C. História do Espiritísmo.
[5] . A Gênese.  Capítulo I V item 16.
[6] . O Evangelho Segundo o Espiritismo Capítulo VII Item 2
[7] Dicionário Michaelis.
[8] Dicionário Michaelis.
[9] Artigo O LIVRE-ARBÌTRIO – Daniel A.Lima. geak.com.br/site/upload/midia/pdf/o_livre-arbitrio.pdf
[10] Dicionário on-line de língua portuguesa - http://www.dicio.com.br/determinismo/
[12] Dicionário on-line de língua portuguesa - http://www.dicio.com.br/determinado/
[13] Dicionário on-line de língua portuguesa - http://www.dicio.com.br/indeterminado/
[14] Livro dos Espíritos. Pergunta 175
[15] Arthur Schopenhauer
[16] . Livro dos espíritos, pergunta 833
[17] Livro dos Espíritos, pergunta 80.
[18] Livro dos Espíritos, pergunta 14.
[19] Livro dos Espíritos, pergunta 78.
[20] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capitulo XXVII item 8.
[21] Livro dos Espíritos, pergunta 385.
[22]  Livro Reforma Íntima sem Martírio. Editora Dufaux.
[23] O Livro dos Espíritos - Questão 800.

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