Você realmente sabe o que é Livre-Arbítrio?
Se eu perguntasse a você o que é livre-arbítrio, naturalmente obteria uma resposta na ponta da língua, mas será realmente que entendemos o que é livre-arbítrio?
Uma das respostas mais comuns seria “A capacidade de se fazer escolhas, ou escolher entre o bem e o mal”.
Mas o que torna alguém mais capacitado a escolher? Há aí uma tremenda confusão e a parte “livre” do termo livre-arbítrio não teria significado algum.
O termo livre-arbítrio acaba por ser tão “elástico” que cada um o interpreta ao sabor de suas paixões. Ele é tão mal compreendido que muitos acreditam que ele nem exista, já que não seriamos livres, nós homens. Por isso esse artigo é tão importante.
Mas para começarmos, vamos perguntar ao nosso amigo dicionário o que são estes termos livre e arbítrio:
Livre: Que age por si mesmo; independente. Cujo funcionamento sem coerção ou discriminação é garantido por lei.
Arbítrio: Resolução dependente somente da vontade; Faculdade da vontade se determinar;
Fazendo uma coletânea dos principais significados do termo livre-arbítrio em vários dicionários, temos:
- Faculdade de tomar decisões segundo a própria vontade
- Faculdade da vontade para se determinar
- Resolução dependente somente da vontade
- Possibilidade de decidir em função da própria vontade isenta de qualquer causa determinante
Dizendo de outra forma, para que uma escolha seja totalmente livre, não deve existir nada que atue de forma a coagir esta liberdade. Somente assim ela será livre em sua totalidade. Se queremos algo e nada impede esta vontade, então somos inteiramente livres.
Se acordamos no meio da noite, abrimos a geladeira e escolhemos o que comer, somos livres se não existir nada que pese nesta escolha, como por exemplo comer algo que não é seu (moral) ou comer algo que venha a aumentar o peso. Se tudo o que estiver na geladeira é seu e se não tem problemas com o peso, então sua escolha será totalmente livre.
Assim é imperativo vincular à vontade (arbítrio) quando pensamos nisso. Desta maneira conseguimos compreender que nossa vontade é variavelmente livre. Uma ora é muito livre, outra nem tanto.
As leis servem para coagir a liberdade do livre-arbítrio: Se alguém tiver a vontade de roubar, a lei coíbe essa vontade, sendo ela menos livre do que seria se não existissem as leis.
Na questão 826 do livro dos Espíritos temos o seguinte: “Em que condições poderia o homem gozar de absoluta liberdade? ”
R: “Nas do eremita no deserto. Desde que juntos estejam dois homens, há entre eles direitos recíprocos que lhes cumpre respeitar; não mais, portanto, qualquer deles goza de liberdade absoluta. ”
O imenso problema em não se compreender sobre o real significado deste termo jaz no julgamento inerente a este senso comum: “Não temos o livre-arbítrio? Então ele poderia ter escolhido o certo...”, ou “Sempre podemos escolher entro o bem e o mal, entre o certo e o errado, sempre”.
Este conceito nada tem a ver com o livre-arbítrio. Cada um tem as suas vontades e elas são mais ou menos livres para acontecer, mas o que ninguém pergunta é: Porque uns tem essa vontade e outros não? De onde vem essa vontade? E, mesmo a vontade não sendo livre, porque ela ainda acontece?
Como se diz em filosofia: “A pergunta certa é mais importante do que a resposta certa”.
Como nos limitamos a questionar o que leva algo a acontecer, não nos aprofundamos nas razões comportamentais dos nossos irmãos. No espiritismo, é mais do que patente de que tudo é uma relação de causa e efeito e de que o acaso não existe. Assim, veja que análise interessante:
A vontade acontece de acordo com nossos pendores, com o que somos no íntimo. Esta vontade é mais ou menos livre para acontecer de acordo com a situação que possa coagi-la. Se esta vontade for muito forte, mesmo com uma liberdade muito pequena ela pode vir a se determinar.
Vejamos como o conceito de livre-arbítrio não define o resultado da escolha, este termo apenas demonstra que nossas vontades tem um nível de liberdade.
O principal é deixar claro que a vontade, filha do nosso íntimo existe como resultado do que somos: Se alguém comete crimes, é cruel ou insensível, isto é uma resposta de sua evolução.
Assim, estamos presos ao que somos, e como disse o palhaço Tiririca: “Muitas vezes eu tentei fugir de mim, mas onde eu ia, eu tava”.
Basta uma autoanálise para ficar claro como estamos presos a nós mesmos: Quantas vezes não queríamos ter uma atitude diferente, mas caímos nos laços que nos prendem ao desamor, orgulho e vaidade?
Dessa forma necessária é combatemos a ideia do senso comum sobre este termo de que qualquer um poderia escolher sempre qualquer coisa. Além deste conceito estar em total desacordo com a lei de causa e efeito, o livre-arbítrio nada tem com isso.
Escolhemos com base no que somos e estamos presos a isso. É por este motivo que o julgamento aos nossos irmãos é tão obtuso; O que estaríamos julgando? Um resultado de uma evolução em particular? Ora, os brutos só são brutos porque não tem em seu íntimo a empatia necessária para lhe causar o compadecimento; os bondosos só o são porque já muito sentiram em outras reencarnações e tem o conceito íntimo de empatia muito aprimorado.
Somos o que conseguimos ser. Queremos o que conseguimos querer e agimos como conseguimos agir. Estamos presos a isso.
Frequentemente me perguntam: “Se estamos presos ao que somos, como uns passam a querer melhorar, evoluir? ”
A resposta é bem simples: porque ninguém quer sofrer e ir contra a luz é sofrimento. Os que querem mudar apenas o fazem para se afastarem deste sofrimento. Quando o espirito obstinado do mal cansa de seu estado e estagnação, isso lhe gera sofrimento, um grande tédio ou algo que o faça querer buscar algo melhor.
Quando for julgar alguém, pense na real condição deste indivíduo; pense na constatação de que ele não tem controle sobre suas vontades e sua sensibilidade. Que ele é uma resposta de sua caminhada evolutiva e está preso nisso, assim como todos nós.
É por isso que nunca devemos julgar ninguém, pois todos estão no limite do que são, naquele momento particular de sua evolução e as escolhas que cada um faz está presa a isso.
“Texto baseado no livro A LUCIDEZ SEGUNDO O ESPIRITISMO, de Daniel Armilest”